Indefinição em três linhas e dezessete sílabas

Hai-cai, impalpável que é, pode ser esse ou isso:
Pedra fosse, talvez paralelepípedo parado no ar.
Fosse bicho, não iria rugir nem mugir: ciciaria.
Se frutificasse, pêra pendente no pé-de-vento.
Líquido fosse, porcelana morna derramada.
Fosse flor, formaria um ramalhete de galhardetes.
Cor fosse, seria uma mancha perfurada de luz.
Se fosse música, soaria por orquestra de córregos.
Fosse riso, teria tom rosado e meses de idade.
Se somente silêncio, seria susto sem sombras.
Compreende agora o peso do alfabeto ocidental
para o insustentável flutuar do sutil hai-cai?

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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