Prof. Thimpor

O que há para ouvir. Informações de cocheira nossa nossa ração cultural diária

Rádio Galena (cadeia de montanhas junto à costa) – Empresa particular, operando em OM, FM, bula de remédio e Mercedes Benz. Programação totalmente gravada, 32 horas diárias de bom humor e malícia, facécias, pilhérias e chistes. As chalaças cheiram a chamusco, alusões irônicas a todo instante, piadas picantes e situações macabras que fariam corar o Marquês de Sade. Recomendável para quem operou amígdala recentemente. Música de Les Luthiers, composições de Johan Sebastian Mastropiero. Os locutores são todos mancos, não sabem crasear e estão com o pagamento atrasado há 36 meses. Entre quatro e cinco da tarde a emissora faz um minuto de barulho pela morte da poesia.

Rádio Himalaia (198.652 KHZ, ondas elevadas, falta de ar) – Programação de alto nível. A nostalgia é o ponto forte da emissora, quando transmite entrevistas com colunáveis do passado. A última, com Ramsés II, despertou tamanho rancor que um bêbado norueguês apanhou sua bicicleta e nunca mais foi visto na região. As transmissões geralmente acabam em pancadaria, sendo a Himalaia a estação mais ouvida no reino do Butão. A História da Música, em capítulos semanais, promove gincanas concursos e lutas de boxe entre o público. O canto homófono, que permite ao solista sobressair-se, é o slogan da estação. O futebol, geralmente transmitido domingo antes do almoço, atrai milhares de ouvintes à sede da emissora para linchar o locutor, um grego expulso da Grã-Bretanha por ser fanho, vesgo e arrimo de família.

Rádio Kolsheya (17.984 KHZ, ondas vagas, com direito a brindes) Emissora japonesa que transmite diariamente meia hora de música catatônica. O resto da programação consiste na fissão nuclear de urânio controlada e interferências. À cada cinco minutos um locutor gago tenta ler em esperanto um noticiário fictício sobre os problemas da civilização diante de uma dízima periódica simples. As doenças infecciosas e parasitárias recebem tratamento especial durante a madrugada, quando vai ao ar o programa “Focos de Bócio”, com participação dos ouvintes que telefonam pedindo bis.

Rádio Jet-Set (2 KHZ, ondas curtas, curtíssimas) – A base sólida da programação é a hipocrisia. Debates, pontapés e latidos a tarde toda. É a única emissora que permanece apenas um dia por mês no dial. O prefixo musical “Semper Fidelis”, em arranjo para fole escocês, causa imensa dor de ouvidos em todo o pessoal técnico da estação de TV mais próxima. Os ouvintes, que são atendidos através de cartas, são  brindados com garrafas vazias de Liebefraumilch e conselhos que vão desde como manter um crustáceo vivo numa taça de champanhe às notas sociais com erros de português. Destaque especial para os últimos 15 minutos do programa “Tungstênio Sound”,“dublado em alemão, que consegue fazer com que a Academia Inglesa de Futebol com Bola Murcha envie seguidas cartas de protesto ao presidente da FIFA.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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