Intolerância, uma atitude irracional

É antológica a frase do político carioca Marquês de Maricá, pseudônimo de Mariano da Fonseca (1773-1848):”A intolerância irracional de muitos escusa ou justifica a hipocrisia ou dissimulação de alguns.” Cada vez mais esta “intolerância” se torna mais freqüente e os resultados que ela produz são cada vez mais dramáticos e porque não dizer, mais inaceitáveis.

É a intolerância religiosa, racista, homofóbica, de classe social e acreditem, até de estética. Há quem não acredite, mas em pleno século 21, existem os que não aceitam o crescimento das religiões afro descendentes, como umbanda, candomblé entre outras, que não discriminam o homossexualismo dando exemplo de respeito e civilidade.

A moça engravida antes de casar, tão comum hoje, é um fato que na opinião dos hipócritas, fere a Deus, fere a fé. Pior que isso seria tirar a vida de um pequeno ser para cumprir ritos e costumes que não são absorvidos pela sociedade mesmo ao passar de centenas de anos.

Mas não seria intolerância, não aceitar um aborto por exemplo?

Intolerância àquele que cresce, social e culturalmente porque o tom de sua pele não é claro. Que diferença faz a cor da pele, dos olhos, se o cidadão é calvo ou cabeludo? Se tem uma tatuagem no corpo? Ora. Mais que intolerância isso é hipocrisia.

Seu vizinho comprou um carro novo, bonito, cheiroso. Então ele está agindo como criminoso porque você continua usando um carro com mais de dez anos de fabricação e o vizinho, aquele, fez uma poupança para adquirir um bem aumentando seu patrimônio.

Aquele seu colega de trabalho, tem um namorado, o detalhe é que ele é homem. No que isso o desqualifica? Aquela sua grande amiga que vez ou outra te socorre tirando uma dúvida, emprestando um dinheirinho para quebrar teu galho, é gente muito boa, mas tem um defeito, namora aquela loira bonitona que você acreditava ser a esposa dos sonhos. Pode até ser que seja, mas como diz o ditado, ela encontrou a tampa que precisava para a panela dela.

Intolerância é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões.

No Brasil exemplos não faltam. É o jogador de voley que assume sua opção sexual e é xingado pelos torcedores, temos também a história dos jovens que passavam na rua e foram agredidos com luminárias por que demonstravam sua opção sexual, e mais recentemente o brutal assassinato com 30 facadas de um travesti de 24 anos, identificado como Daniel Oliveira Felipe, por quatro rapazes em Campina Grande na Paraíba. Nesse caso, o crime foi flagrado por câmeras de monitoramento e apesar da brutalidade, a Polícia Civil disse, que não se tratou de crime homofóbico. Pelo que sabemos um homicídio é um homicídio em qualquer lugar do Planeta Terra.

A cada jogo de futebol que deveria ser uma festa perdendo ou ganhando, vemos a destruição de ônibus, as agressões nas ruas, a violência porque a pessoa veste a camisa do time do coração. Vocês acham que isso pode ser considerado normal?

A intolerância nossa de cada dia é tão grande que um metalúrgico que almejou a presidência da República, perdeu uma eleição para o governo de São Paulo e três para presidente. Afinal, como pode um cidadão que sai do interior de Pernambuco, pobre, metalúrgico, sem curso superior comandar o maior estado do País ou mesmo o melhor País do mundo que é o Brasil?

Deu no que deu. Uma surra de cinta nos ignorantes e intolerantes, colocando o Brasil nos trilhos e sendo reconhecido em 2009 como o homem do ano pelos jornais Le Monde e El País e de acordo com o jornal britânico Financial Times uma das 50 pessoas que moldaram a década pelo seu “charme e habilidade política” e também por ser “o líder mais popular da história do país. Isso é o fim da intolerância, mas aconteceu na Europa e não aqui no nosso amado país.

Mais recentemente e tristemente tivemos o episódio no Rio onde crianças foram mortas numa escola por um indivíduo armado e que hoje supõe-se, pois nada é provado, que foi vítima do chamado bullying ou buling. Uma agressão praticada porque determinada pessoa é magra demais, “gorda” demais, silenciosa demais.

As tevês repercutiram esta semana as opiniões de um dos mais respeitados e conhecidos jornalistas brasileiros Caio Blinder, qualificando esposas de líderes árabes, como a rainha da Jordânia de “piranha” durante o programa “Manhattan Connection”, da “Globo News”, por se vestir bem, ter muito dinheiro e estarem no topo das chamadas classes sociais. As “piranhas”, pejorativamente no Brasil são conhecidas como prostitutas, e também merecem respeito.

É muita coisa acontecendo e pouca gente se conscientizando que o direito de cada um acaba quando começa o do outro. Ser diferente do nosso modo de agir ou pensar é um direito de cada um e precisa ser respeitado. É preciso tolerar para sermos tolerados.

A intolerância deveria constar no código de processo penal e os juízes precisam sim, ser intolerantes com quem não tem tolerância. Quem não aceita o outro, seus atos, sua maneira de agir. É preciso impor a lei sempre justa e clara, para acabar com estas atitudes e dar ao cidadão o direito de agir como quiser e poder andar de cabeça erguida devido às suas opções.

O fim da intolerância é uma forma de reduzir a violência e garante que a democracia siga seus passos respeitando o direito de todos nós.

SOS Comunidade

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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