Itamar Assumpção: um museu dedicado à negritude e à genialidade do “Nego Dito”

© Divulgação

Itamar Assumpção, vulgo “Nego Dito”, nasceu no dia 13 de Setembro de 1949 na cidade de Tietê (SP), no interior de São Paulo. Itamar cresceu em meio a manifestações culturais africanas, que posteriormente foram incorporadas de maneira única e inovadora em sua obra musical, que envolve cerca de 12 discos gravados.

Na cidade natal do músico, é possível encontrar viva a tradição do Batuque de Umbigada, uma dança tradicional africana. E no quintal da casa de Itamar, bisneto de angolanos escravizados, era possível ouvir o grave dos tambores de candomblé.

Inspirado na contracultura, a Vanguarda Paulista propunha rupturas e inovações. Artistas como Itamar Assumpção eram independentes, administravam a si próprios, sem auxílio de gravadoras. E assim Itamar, acompanhado da banda Isca de Polícia, lança de maneira independente seu álbum de estreia, Beleléu, Leléu, Eu, em 1980.

Segundo a enciclopédia do Itaú Cultural “As canções do álbum giram em torno da vida do anti-herói Beleléu, um marginal “inconformado com sua situação”. Seu verdadeiro nome, Benedito, como você ouviu no começo da reportagem, faz referência ao santo cultuado pela comunidade negra no Brasil – e é também uma ironia com a noção de artista maldito (ou seja, o Nego Dito).”

Mesmo em memória, Itamar permanece em posição de vanguarda. Ele é o primeiro artista negro brasileiro a ter um museu virtual dedicado à sua vida e obra. O museu virtual Itamar assumpção, como foi batizado, se abre para o mundo neste 20 de novembro, data que marca o dia da consciência negra.

O espaço conta com uma mostra permanente sobre Itamar Assumpção, com mais de dois mil itens no acervo, além de exposições de curta duração que vão contemplar artistas contemporâneos.

A direção geral do museu é de Anelis Assumpção, filha de Itamar e guardiã de sua obra.

Fred Teixeira, que faz parte da equipe de curadoria, explica a opção, neste primeiro momento, pelo espaço virtual. E a boa notícia para quem prefere a visita presencial, é que a possibilidade de um espaço físico, mais pra frente, também está no horizonte.

“Só um acervo cartesiano não daria conta dessa primeira comunicação da herança de Itamar. Então resolvemos criar uma estrutura parecida com a de um museu físico, mas online. Mas a nossa intenção não é ficar só no online, mas também criar outros braços.  E quem sabe uma sede física na zona leste, na Penha. Vamos pensar um pouco sobre isso”, conta.

Itamar morreu cedo, aos 51 anos, sem o reconhecimento do grande público e taxado de maldito, como outros artistas de sua geração, devido à complexidade de suas composições. Reputação essa que não agradava ao músico.

De 2003 pra cá, a vasta produção do artista ganhou novos olhares e passou a ser cultuada pelas novas gerações. Na academia, a pesquisadora Rosa Aparecida do Couto Silva, que também é cantora da  Funmilayo Afrobeat Orquestra e integra a equipe de curadoria do museu, dedica sua tese de doutorado ao estudo da obra de Itamar.

Em sua pesquisa, ela demonstra como as “referências afro brasileiras, como o Batuque de Umbigada, são utilizadas de forma experimental pelo artista para construir uma uma linguagem musical original”.

O estudo de Rosa Couto Silva também adentra o racismo estrutural na indústria fonográfica da década de 1980 que Itamar enfrentou:  “Na verdade, existia uma lógica racista muito forte nessa indústria. […] O Itamar Assumpção, por não se permitir encaixar num rótulo, como sambista, ou como, enfim, um artista que tivesse um rótulo dentro dessa indústria, ele ficou sem lugar mesmo. E nunca conseguiu atingir certa popularidade, porque essa indústria não estava aberta para isso, apesar dele ter um trabalho extremamente rico”, aponta a pesquisadora.

Até sua morte, em 2003, Itamar Assumpção viveu no bairro da Penha, na zona leste de São Paulo, onde foi morar em 1976, depois de seu casamento.

Edição: Geisa Marques

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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