Jair entre beijos, tapas e palavrões

Jair Bolsonaro deve ter voltado ao Brasil em estado de êxtase. Esteve no país dos seus sonhos, com os seus ídolos supremos, visitou a Casa Branca e – glória das glórias – a sede da CIA (Central Americana de Inteligência). Algo assim como se a minha geração, na alça dos 10 anos de idade, tivesse ido à Disneylândia, visto Mickey, Donald e Pateta de pertinho, entrado no Castelo da Cinderela e conhecido pessoalmente Walt Disney.

Entre as mesuras de admiração ao Grande Chefe Branco, ignora-se se o capitão Messias conseguiu beijar a mão de Trump, no encontro reservado que tiveram. Se não, só faltou isso, porque, além de ceder aos americanos o uso da base aérea de Alcântara, no Maranhão, e liberá-los do visto de entrada no Brasil, prometeu até ajudar a bater estaca no muro divisório que dividirá a grande nação do perigoso México. Espera-se que não tenha ofertado a Trump um gabinete de trabalho no Palácio do Planalto, nem cogitado transferir Brasília para Washington.

Com Olavo de Carvalho passou um bom tempo de mãos dadas. É possível que lhe tenha feito declarações de amor, mas deveria saber que Olavo não é bem quem ele pensa, como se verá na sequência.

Como as pataquadas do topetudo canário belga de Tio Sam estão todas as noites no noticiário televisivo e não são mais novidade para ninguém, ocupemo-nos do ideólogo brasileiro de Jair Messias Bolsonaro.

Exilado em Richmond, Virgínia, nos EUA, Olavo de Carvalho, que se apresenta por conta própria como jornalista, escritor, filósofo, professor e conferencista – embora não disponha de nenhuma graduação escolar superior – é tido, não se sabe bem por que, como um dos patronos da direita brasileira. E, como mentor ideológico de Bolsonaro, emplacou dois ministros no atual governo – não por acaso os dois dos mais fracos: Ricardo Vélez Rodriguez, da Educação, e Ernesto Araújo, das Relação Exteriores.

– Olavo de Carvalho é uma inspiração, e sem ele Jair Bolsonaro não existiria – garante, com explícito exagero, Eduardo, o filho 02 do presidente.

Não obstante, a admiração do capitão parece não ser correspondida pelo seu mestre. Sempre que pode, como em recente entrevista ao site UOL, Carvalho, com o seu linguajar recheado de palavrões, faz pouco de Jair:

“Eu não sei quais são as ideias políticas dele [Bolsonaro]. Conversei com ele quatro vezes na vida, porra”, afirmou aos jornalistas. E mostrou-se pessimista com o futuro do Brasil, prenunciando que, “se o governo continuar como está por mais seis meses, acabou”.

Na verdade, o “sociólogo” menospreza o governo Bolsonaro, inclusive os membros indicados por ele:

“Só falei com Velez duas vezes: uma vez para parabenizá-lo, quando foi nomeado, e a segunda para mandar tomar no cu” – revelou. “Eu sugeri o nome dele para a Educação, e encheram o ministério de picaretas.”

Aliás, ele garante que os principais auxiliares do presidente – sobretudo os da ala militar do governo – são má influência e têm atuado para prejudicar Bolsonaro desde o início do mandato. Diz que o presidente está cercado de traidores e não esconde o seu ódio do vice-presidente, general Hamilton Mourão. Segundo Olavo, Mourão “é estúpido” e tem uma “vaidade monstruosa”.

“O Bolsonaro vai viajar, ele assume temporariamente, e a primeira coisa que faz é ir para São Paulo ter uma conversa política com Doria. Esse cara não tem ideia do que é ser vice, só sabe sobre sua vaidade monstruosa. Você acha que ele pediu permissão do presidente para ir a São Paulo? Eu não o critico, eu o desprezo”.

Em seguida, confessa que o seu desejo é mudar o destino da cultura do Brasil: “Esse é meu sonho, o governo que se foda, eu estou cagando para o governo. Eu sou Olavo de Carvalho, não preciso do governo”.

E Jair Bolsonaro precisa de Olavo de Carvalho? Segundo o filho 02, ele é imprescindível, ainda que prenuncie publicamente o fracasso da administração bolsonariana. A cova está aberta. O 02 não percebe que aquele desprezo de Carvalho ao vice Mourão estende-se claramente ao pai dele…

Olavo é Olavo. O resto é ralé. Arrogante, pretensioso, egocêntrico, vazio, desbocado e mal-educado, ele simplesmente se acha! E tem gente que, desgraçadamente, acredita nele.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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