João Doria tem ração

© Myskiciewicz

O prefeito João Doria apresentou uma boa ideia que já vem sendo bombardeada, nesta tarefa de desconstrução da sua imagem, moda atual em que todos buscam tirar uma casquinha. A mais nova encrenca enfrentada pelo prefeito paulistano é a do alimento processado a ser distribuído entre pessoas pobres, uma invenção para a qual já estão querendo dar o apelido ruim de “ração”.

A informação de que o produto é feito a partir de alimentos próximos à data de vencimento também vem sendo usada para caracterizar mal o produto, por mais que isso seja aceitável e até já aconteça de empresas doarem alimentos próximos do vencimento. A novidade no que Doria está implantando é o formato granulado, cujo processamento tem a capacidade de alongar a data de validade desses alimentos.

Como não podia deixar de ser, já apareceram teóricos para desqualificar o projeto da prefeitura com palavras bonitas. Um pesquisador da Unifesp disse que o produto “descontextualiza totalmente o caráter do que é comer”. Outros falam do respeito ao caráter cultural do alimento. E por aí vai. Mas o granulado do Doria nada mais é que algo parecido a produtos que estão à venda em lojas principalmente de alimento integral. E que são até bem caros. O aspecto desse granulado até que é dos melhores. E obviamente não é apenas esse tipo de alimento que vai constar na cesta básica dos mais pobres. Neste tema, aliás, o prefeito já andou oferecendo até omeletes para moradores de rua.

O que querem mesmo é pegar no pé de Doria o que seria feito com ou sem o granulado. Mas a verdade é que pode ter faltado um cuidado maior para apresentar a proposta, que caiu de imediato na boca da oposição e tornou-se mais um fato polêmico. E ainda teve descuido de assessoria, com o secretário de Assistência Social, Felipe Sabará, caindo na besteira de provar o granulado a pedido de uma rede de TV. Logo destacaram uma imagem parada na qual parece que ele comeu e não gostou, o que não é confirmado pela imagem em movimento e nem por sua declaração.

Mas quem é que vai conferir veracidade, nesses tempos em que a ironia e a desqualificação é que pautam a maioria dos debates? O objetivo da prefeitura é altamente nobre, de evitar que alimentos sejam jogados fora. A lei é do próprio Doria. Porém, o debate já começou do modo usual, pela busca de defeitos e o estímulo para que a coisa não dê certo. É o preço que o prefeito paga por ser presidenciável e parte desse custo vai também para a população, com o desmonte pretensamente jocoso de boas ideias administrativas.

José Pires

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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