Fernando Haddad e a Bíblia desaparecida

Uma das histórias mais patéticas desta eleição indecente é esta complicação de Fernando Haddad com uma Bíblia recebida por ele em um palanque no Ceará, que depois apareceu nas mãos de uma pessoa em um vídeo da internet com a acusação de que ele jogou fora o livro. O episódio grotesco serve para demonstrar o grau inacreditável de amadorismo do PT, que deveria estar mais precavido, até pela experiência do próprio partido em armar sujeiras para o adversário.

Qualquer um que faça com o PT apenas metade das maldades do que esse partido já fez para os outros já estará sendo bastante cruel. O partido do Lula carrega muito golpe traiçoeiro na sua folha corrida, como a absurda criação do falso dossiê contra José Serra, quando o tucano disputou e ganhou a eleição para o governo de São Paulo, contra o petista Aluizio Mercadante. O documento acusaria Serra de ter relações com a chamada “máfia dos sanguessugas”, esquema corrupto que vendeu ambulâncias superfaturadas para o governo.

O escândalo aconteceu durante o governo Lula e ficou conhecido como “Dossiê dos aloprados” porque para se safar, como de costume Lula inventou uma lorota. Tachou de “aloprados” os petistas que negociavam o documento falso criado para favorecer o candidato do PT. A fraude foi em setembro de 2006 e teve a apreensão pela polícia de 1,7 milhão de reais em espécie. Ninguém reivindicou a propriedade da dinheirama, que foi para a União. Em abril de 2017 o ex-executivo da Odebrecht, Luiz Eduardo da Rocha Soares, revelou em delação premiada que o dinheiro era da Itaipava e Odebrecht. Então, quem acredita que tem alguma superioridade moral quando defende Haddad de ataques da campanha de Bolsonaro, lembre-se do dossiê dos aloprados. Existem outras falcatruas petistas em eleições, mas agora voltemos ao incrível enrosco do candidato petista com o exemplar da Bíblia.

Haddad recebeu a Bíblia no Ceará e logo após ela apareceu nas mãos de uma pessoa que o acusa de ter jogado fora o livro. O vídeo já está bombando, com trechos editados em vários outros materiais de ataque ao petista, naquele tom direitista de colocar o adversário contra a religião cristã. Cabe lembrar que esse assunto apareceu depois do próprio Haddad dar aquela mancada de ir comungar em uma missa e ainda levar a tiracolo sua vice comunista Manuela D’Ávila. E antes que alguém venha com bobagens, claro que sou contra esse tipo de ataque político, mas acontece que isso existe. Então que se cuidem. O que não pode é brigar com a realidade. Haddad teria de ter tomado o máximo cuidado com assunto de religião, mas em vez disso inventou uma missa para efeito eleitoral, trazendo exatamente o mote que os seguidores de Bolsonaro precisavam para apontar um suposto ateísmo.

Essa história da Bíblia também é resultado de uma falta de organização e cuidado da campanha petista. Não é só porque o adversário é um militar, mas caberia ter um serviço de inteligência bem ativo, não acham? Era óbvio que tentariam trazer de volta o assunto de religião, que rende que é uma beleza para o adversário do PT. A Bíblia, que aliás é de capa vermelha, foi presenteada a Haddad por um militante de seu partido. A ideia inoportuna, porque o candidato já estava sob ataque depois da ida à missa, lembra até o ditado da corda em casa de enforcado.

Mas vá lá que não tenha sido possível para a equipe evitar o retorno deste assunto que já estava claro que traz dificuldade para a campanha. Ora, então que cuidassem do exemplar da Bíblia. Haddad afirma que furtaram o livro no próprio palanque logo que ele o passou para alguém. E no mesmo dia apareceu o vídeo com a acusação de que a Bíblia foi jogada fora. Pode ser que tenha sido mesmo uma armação. Mas não há nenhuma dúvida de que ocorreu um descuido feio na campanha petista, onde parece haver uma despreocupação até ingênua com o que os inimigos podem fazer.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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