Olavo de Carvalho e sua encrencas oportunistas com o governo Bolsonaro

A imagem vem da página de Olavo de Carvalho no Facebook. Com arte confeccionada por ele, o texto afirma o seguinte: “Se eu fosse guru do regime (sic), os generais cumpririam ordens e não dariam opinião sobre nada”. E eu pergunto como é que alguém que se dedica à filosofia comete um erro desses de interpretação? Os “generais” de que o professor está falando na verdade são militares da reserva e ministros do governo Bolsonaro, um deles foi eleito vice-presidente, de modo que não existe impedimento de que dêem opinião, independente da qualidade do que falam e do assunto tratado. No âmbito do custo e benefício de um governo, cabe a eles e ao presidente fazer o juízo de valor do que vem sendo falado.

Nos últimos dias, Olavo vem desfechando ataques vigorosos a esses generais que fazem parte do núcleo militar de Bolsonaro, centrando especialmente no vice Hamilton Mourão. É um desastre o que o velho professor vem fazendo, no tocante à estabilidade de um governo que se fez a partir de um clima político para o qual ele teve participação essencial em um trabalho de décadas, o que, ao menos em tese, exigiria dele mais equilíbrio e responsabilidade. Ainda mais quando sabe-se da dificuldade que Bolsonaro vem tendo para fazer seu governo engrenar.

O velho inimigo da esquerda manda seus petardos pelo Twitter e o Facebook, das trincheiras do estado americano da Virgínia, onde mora há muitos anos. Numa dessas mensagens, desta terça-feira, escreveu o seguinte: “Se dependermos de tipos como Mourão, em menos de um ano a quadrilha petista estará de volta ao poder, amparada nos serviços secretos da Rússia e da China”. Ele anda muito bravo com Mourão, que vem acenando que o governo não colocará em prática muita coisa da chamada política anti-globalista de Olavo, sendo uma delas a mudança da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém.

O exagero e nível de desrespeito é próprio de Olavo, procurando o mesmo impacto que enquanto atingia a esquerda dava imensa satisfação aos bolsonaristas. O problema é ter essa artilharia olavista como fogo amigo. O professor já escreveu que Mourão tem uma “falsa esperteza de covarde” e colocou em dúvida se o general Augusto Heleno “tem vergonha”. Num texto dessa semana, ele afirmou também que “militar, quando está diante de repórteres ou de figuras do show business, se mija nas calças, de temor reverencial e de prazer”.

Esta é a postura do guru da família Bolsonaro. Imaginem que interessante uma reunião do governo Bolsonaro para tratar desse tipo de assunto. Reunião no Albert Einstein tem a vantagem dos médicos estarem perto se o capitão enfartar. Olavo faz piada com a fama de guru, mas não discorda do seu papel simbólico neste governo. Ele próprio disse em vídeo recente que é “o símbolo do movimento que elegeu o presidente da República”, portanto sabe muito bem as consequências do que vem fazendo. Olavo tem também experiência suficiente para saber que sem o núcleo militar em torno de Bolsonaro seu governo se esfarela de imediato.

O que o professor pretende é mais simples do que influir decisivamente no governo Bolsonaro, que de forma alguma ele conseguiria criando encrencas desse jeito. Na verdade, ele dá os primeiros passos para o desembarque de um projeto político que não foi possível nem começar. Esse movimento de desembarque já vem sendo notado em várias figuras influentes das redes sociais, que durante a onda política que levou Bolsonaro à Presidência da República  tiveram com ele uma relação de ganho mútuo.

Acontece que com o desmonte da imagem de Bolsonaro acabam os benefícios em defender o governo. Ao contrário, perde-se prestígio e até dinheiro, porque para muitas dessas figuras, como certos youtubers, esse desmonte resulta em perda de credibilidade e audiência na internet. Neste bando desesperado para escapar, Olavo é o de maior expressão. Daí sua tentativa de sair dessa como o sujeito corajoso que brigou com os generais, que ele pretende apontar como demolidores de um projeto político.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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