Bolsonaro: errando no governo com o que deu certo em campanha

O governo de Jair Bolsonaro vem sendo vítima de consequências típicas de quem vence uma eleição de forma extraordinária. Na avaliação da sua vitória parece que deixaram de lado casualidades determinantes durante a campanha, a começar das facadas de Adélio. O atentado fortaleceu o mito e ainda criou uma justificativa para Bolsonaro se retirar de cena, evitando mostrar-se integralmente dessa forma que os brasileiros só estão vendo agora: uma figura que causa vergonha alheia até em quem já foi seu fã.

Imaginem este sujeito sem noção que aí está, sendo obrigado a se expor dando entrevistas e tendo que participar de debates. Mesmo amparado na respeitabilidade do cargo de presidente, Bolsonaro perdeu rápido a confiança de uma parcela enorme de brasileiros. Também não consegue se impor como líder, em grande parte porque tem uma dificuldade enorme de se expressar até em questões muito simples. E ao contrário do que se pensava, falta-lhe carisma e capacidade de cria empatia.

Outro erro de avaliação grave foi o de achar que sua vitória se deveu a uma genial ação de comunicação digital. E não foi bem assim. No segundo turno sua comunicação não teve que encarar nenhuma grande dificuldade. Enfrentaram um adversário obrigado a atuar na defensiva e que não teve capacidade de ganhar aliados nem no desfecho da eleição. Por isso, seguiram do mesmo modo do primeiro turno, na linha bolsonarista de desinformação e ataques violentos.

Mas acabou ficando o mito de que ganharam pela capacidade de comunicação, uma fama que está criando sérios problemas agora, na hora de governar. Essa ilusão da campanha fez muita gente acreditar que Carlos Bolsonaro é um bamba no negócio. E não é fácil desfazer o equívoco. Foi ele que sempre cuidou  da comunicação digital do pai, cuja eleição acabou referendando seu talento pra coisa. Como as casualidades estão sempre fora da análise da vitória, Carlos acabou sendo superestimado e ganhou uma influência no governo que está muito além, mas bem acima mesmo, da sua real capacidade política e profissional.

O que vem sendo feito em comunicação é tão errado que nem há o que consertar. Seria preciso jogar tudo fora e fazer algo totalmente diferente. E isso também não será fácil de conduzir, pois a comunicação comandada pelo assim chamado Carluxo cumpriu pelo menos uma de suas metas, concluindo a tarefa de criar um perfil político para a militância governista. É uma militância agressiva, que busca se impor não pelo debate e o convencimento, mas com desdém pelo que o outro diz, com agressão e o ataque cerrado a qualquer um que ouse fazer o mínimo reparo ao que acontece no governo.

Essa militância cabeça-dura já causou muito estrago nesses quase três meses de governo. Afastam inclusive simpatizantes, criando uma profunda rejeição entre a imprensa e causando encrenca até com o Judiciário. O descontentamento atinge até a base aliada do governo no Congresso Nacional, com o afastamento de deputados que já estavam prontos a aderir ao governo, para isso bastando que houvesse articulação política. Foi seguindo o modelo da campanha que as falanges digitais passaram a mirar raivosamente parlamentares, jornalistas e quem mais estivesse pela frente. É o que o Carluxo sabe fazer. E só poderia ter dado certo se o governo do pai dele contasse com tantas casualidades favoráveis como aconteceram para que ele se elegesse.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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