Joyce, a outra

JOICE HASSELMANN, ontem no programa Roda Viva. Nada de novo. Ela conhece o meio, que domina como jornalista de rádio e televisão. Ensaia uma nova mensagem, digamos, meia mensagem, a de que os filhos do presidente mantêm uma milícia digital com perfis falsos, da qual ela é a vítima mais recente. No entanto, lembrando os velhos estalinistas, a deputada diz que se mantém fiel ao presidente, com quem troca mensagens por WhatsApp.

A entrevista foi o mais do mesmo por parte da deputada. Se alguém acreditava em Joice pelo radicalismo que a elegeu, embarcada na nau dos insensatos bolsonáricos, sua credibilidade sofreu ligeira erosão (ligeira, porque difícil haver redenção e conversão ao bem dentro da seita que nos governa). Não se nega a inteligência da deputada, mas ela nega a inteligência de quem a assistia ontem: por que só agora ela vem a público expor as mazelas dos filhos do presidente?

Resposta óbvia: disputa por poder, espaço político. Joice foi ameaçada em sua posição dentro do Legislativo com o prêmio de consolação da liderança que o pai presidente deu ao filho Eduardo. Ao resistir à graça concedida, a deputada perdeu a posição e as vantagens políticas da liderança do governo no Congresso, da qual foi destituída pelo presidente da República. Como acreditar na fidelidade que ela agora apregoa a Jair Bolsonaro com a patética confissão de que trocam mensagens?

Na apregoada fidelidade ao presidente está a velada admissão de que seu espaço pode ser reduzido ainda mais, pois nosso capitão-mor não recolhe feridos no campo de batalha. Joice morde os filhos e sopra o pai. Só ela acredita nisso. Ela assegura que nas crises que enfrentou na vida sempre “caiu em pé”. Deixemos as insinuações do cair em pé ao baixo e rico glossário da milícia bolsonárica. A entrevista de Joice foi ligeiramente útil, mas nem um pouco convincente. Melhor ouvir a outra Joyce, doce cantora.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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