O INSULTO não é blog de variedades, como o outro, cuja área de competência hoje invadimos. Resgatamos brevemente o que dissemos uma vez sobre os ternos – ou costumes, como insiste o doutor Roberto Nunes, fiel ao uso e à terminologia do colete. As calças de cintura baixa, curtas, desvendando as canelas, e apertadas ao ponto de causar dor na região escrotal. Os paletós, de igual apertadinhos e curtos, como se o defunto a quem serviram fosse anão ou guri de primeira comunhão.

HOJE versamos os sapatos masculinos. Relevem-se os bicudos, pontudos, que as mulheres já batizaram, quanto aos seus, de armas para encurralar e matar baratas. Embora contraditória, a imagem é útil. Apesar dos bicudos, houve pelo menos o resgate dos modelos Oxford, os sapatos de amarrar de nossos avós. Bicos arredondados, bem construídos, ofertando cores que – como dizem os procuradores da Lava Jato – desbordam dos invariáveis e conservadores preto ou marrom.

A MODA das calças curtas, canelas à mostra, incorporou o determinismo dos sapatos sem meias. Respeitados os que têm alergia, o sapato sem meias evoca mau cheiro e, no tempo de nossos avós, falta de educação, passível de punição e cárcere privado.  O Insulto arrisca dizer que sapato sem meia é frescura. Sem meias só os Maria Mole, cor branca, dos malandros de antanho. Imagino o que diria o cronista Célio Heitor Guimarães de um Vulcabras, um Clark, um Scatamacchia sem meias.

ONTEM topamos com um modernoso no consultório do doutor César Kubiak – o conservador que trata as mulheres de minha senhôra, escreve com caneta Parker e bebe vinho com salame copa de São João do Triunfo. Nosso personagem vestia-se pelo figurino da falta de ar, da dor nos bagos, calçado num Diplomata. Sem meias, canelas de zagueiro, um horror. Sem meias? Bem, na borda dos sapatos entreviam-se as meias que as mulheres usam para disfarçar que estão sem meias. Aí, já é demais.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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