Muito para nada

Por caminhos muito diferentes, Lula e Fernando Henrique imaginam soluções muito semelhantes para a complicação mais acirrada deste sempre complicado país. Um tanto originais nas formas de suas propostas, não o foram no teor, já expresso por um ou outro empresário.

Lula já falara, mais de uma vez, na “união dos que pensam no país”. Agora elevou o estado de ânimo e a união imaginados: “Se recuperarmos a harmonia política (…)”. Harmonia, nada menos.

Do impeachment, passando pela Dilma como “pessoa honrada”, pela entrega da “solução” aos tribunais, pela “grandeza da renúncia”, até outras variantes, Fernando Henrique está agora com a solução vinda de “um bloco de poder”: “É algo que engloba, além dos partidos, os produtores, os consumidores, os empresários e os assalariados, e que se apoia também nos importantes segmentos burocráticos do Estado, civis e militares”. Para ser a união de todo o país, só faltaram as passistas de escolas de samba.

Mas, nessas propostas, onde fica a realidade? Não é isso, por certo, mas parecem propostas de ambição grandiosa o bastante para que nada seja feito. Perdeu-se no tempo, em ambições pessoais e mediocrização política, a aproximação possível entre o PSDB, quando se propunha a ser social-democrata, e os que priorizam as políticas de combate às desigualdades, tantas, que caracterizam o país.

Hoje, o PT e os demais componentes deste segmento admitiriam por conveniência, só por isso, alguma aproximação com a linha encabeçada pelo PSDB. Motivo, portanto, incapaz de sustentar um programa e ações de unidade razoável. E, já de saída, o colapso mental do PT nem teria contribuição a dar para uma tentativa de pacto entre opostos.

O PSDB, depois de desfigurado por ambições e pela degradação do pensamento político, por oportunismo deixou-se minar pelos militantes da antipolítica. Transfigurou-se em representação partidária dos que anseiam por uma “saída pela direita”, bem à direita.

Como os petistas são os aturdidos porque emudecidos, os peessedebistas são os aturdidos porque, falastrões, não conseguem dizer a mesma coisa dois dias seguidos.

O nível a que a animosidade chegou tem poucos precedentes no Brasil. Muitos falam em ódio, e é isso mesmo. Os três maiores jornais têm publicado artigos com nível de ódio e insulto que, retratando bem esse estado, mesmo nas grandes crises do passado só apareceram nos poucos jornais da ultradireita.

Essa extremização furiosa reflete e insufla um estado em que tudo de ruim é possível e nada de bom tem oportunidade. E o entendimento amplo seria muito bom para o país.

janio-de-fretitasJanio de Freitas – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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