Mulher de sorte

Foi um comentário casual, inocente, “puxa, como tua mulher tem sorte!” Casual e inocente, porque o interlocutor desmanchava-se em narrar seu azar, que equivalia no exato contrário na mulher. Quando sonhava com cobra, o bicho dava cavalo. Seus investimentos eram a fundo perdido, dinheiro jogado fora. Um perdedor nato.

Já a mulher, contava, os olhos brilhante, tinha nascido com o traseiro para a lua: tomava o ônibus e achava maços de dinheiro; comprava as rifas do ‘nome de sua preferência’ (não o dele) e ganhava joias caras. Ele, a única vez que achou alguma coisa foi aquela cueca debaixo da cama – que, para cúmulo do azar, nem servia nele.n

Inocente, como dito lá em cima, soltei o comentário casual: “é muita sorte para uma só mulher!” Aquele marido, até ali manso e pacato, tomou-se de fúria bíblica: “minha vontade é encher tua boca com uma porrada”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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