Musa de uma geração (2)

Certas personagens não cabem num só capítulo de uma memória de vida. É o caso de Laís Mann. A Vênus do Show do Jornal merece muito mais. Por limitações de espaço, não nos foi possível contar outros relatos de sua rica biografia, revelados em quase quatros horas de conversa na mesa de um bar.

Laís Mann é uma doce “Bala Zequinha”, fazendo um comparativo recorrente na nossa linguagem leitE quentE: começou como modelo aos 16 anos; se tornou jornalista famosa ainda menor de idade (uma garota de 17 anos falando de assuntos que só interessavam aos homens de 50); se viu figurante do filme Um uísque antes… um cigarro depois, do diretor Flávio Tambellini (tinha 18 anos e nunca assistiu ao episódio baseado num conto de Dalton Trevisan, filmado em Curitiba); se ouviu radialista de um prestigiado programa matutino na Rádio Independência (no horário que em seguida daria início à carreira de Luiz Carlos Martins); se descobriu atriz e cantora no Teatro do Paiol (quando convidada para tomar parte do elenco da peça Cidade sem Portas, de Adherbal Fortes de Sá Júnior e Paulo Vítola).

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Um dos capítulos da biografia da Vênus do Show de Jornal que não pode ser esquecido é aquele em que encontramos Laís Mann em Brasília, nomeada funcionária do Senado Federal. Ou seja, “Bala Zequinha barnabé”. Depois de se separar de José Campos Hidalgo (empresário da indústria química, de tradicional família curitibana), Laís se reaproximou de um antigo namorado das tardes dançantes da Sociedade Água Verde, e foi morar com o jornalista Luís Arthur Saraiva na capital federal.

Em Brasília, foi contratada para trabalhar no gabinete do então senador paranaense Enéas Faria, no período de 1983 a 1987. Dividindo uma sala com o falecido senador, Laís Mann conheceu o “puder”. Sombras e mazelas, subterrâneos e labirintos, o outro lado da moeda que é usada no câmbio negro do tráfico de decisões políticas. No olho do furacão de um Brasil sendo redemocratizado, mesmo assim recebeu de propostas tudo o que se possa imaginar. Inclusive em dólares.

Desse período pouco merece ser lembrado, muito pode um dia ainda ser contado. Dos bons momentos,
um deles Laís guarda para contar aos netos.

Enéas Faria, 1.º secretário do Senado, tinha no gabinete um telefone vermelho que não podia, sob hipótese alguma, ser atendido pelos funcionários. Certo dia bateu aquele telefone e a desavisada Laís Mann atendeu de pronto. O que se seguiu foi um simpático e agradável diálogo, com as devidas apresentações: era José Sarney, o presidente da República.

No outro dia, Enéas Faria chamou a funcionária para uma conversa particular:

— Laís, você me criou um problema!

— Qual problema, senador?

— Acabei de falar com o presidente Sarney e ele me fez um pedido: só quer ser atendido ao telefone vermelho por você, e por mais ninguém.

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Em 1988, a musa de uma geração foi candidata a vereadora em Curitiba. Com 1.300 votos, perdeu para uma Laís com muito mais “café no bule”: Laís Peretti. Nas eleições municipais deste ano, Laís Mann foi convidada para ser outra vez candidata a vereadora.

Por ora, aceitou. Se José Sarney quiser ser cabo eleitoral, tanto melhor: a musa não rejeita apoio dos fãs.

Dante Mendonça [12/02/2008] O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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