Na jugular

Os auditores fiscais do Estado deixam os cargos em comissão em protesto contra o secretário Renê Garcia, que além de mexer no sistema de trabalho os estaria tratando mal – recorrem ao verbo “destratar”, que o paranaense reserva para situações de extrema grosseria. Falei uma vez com o secretário, muito rapidamente, e no momento achei que me tratou mal (não o destrataria afirmando que ele me destratou). A má impressão dissipou-se logo que me dei conta de que Renê Garcia é um homem feio, feio demais. Mas sua feiura deixa de nos afetar passados alguns minutos de conversa polida e inteligente. Convenhamos que cara feia é o atributo desejável para quem cuida do dinheiro público. Se fosse para ter secretário galã era só nomear Heron Arzua de novo, ainda bonito depois dos 80 anos. Não por acaso um queridinho dos auditores.

– As eleições para os conselhos tutelares por enquanto seguem no padrão Reforma versus Contra Reforma, um recuo político ao século 16, de protestantes contra católicos, aqueles encarnados na leva evangélica que quer reformar o Brasil pela pauta bolsonárica. Mas aqui bateu o sincretismo com a prática eleitoral corrupta: captação de votos, fraude em cédulas, transporte de eleitores, padres e pastores a prometer o paraíso e o fogo do purgatório. A justiça tem intervindo e anulado um bom número se urnas. Daqui ao caixa dois, à propina e à compra de votos será um pequeno passo. Essas práticas em conselhos tutelares soam como pedofilia política.

– E isso de Eduardo Bolsonaro ser carregado em Nova Iorque e Washington nos braços de lobista norte-americano com projetos de exploração da Amazônia? O embaixador dos sonhos do presidente Bolsonaro cacifa-se na matriz para fazer aquilo de que depende da autorização da filial. Em vez de tomar aulas particulares no Itamaraty para mostrar aptidão aos senadores brasileiros, prefere mostrar que é enturmado com um gringo. Isso é atributo de vendedor, não de embaixador.

– Chato terráqueos dizer. Ninguém entendeu que a entrevista sobre homicídio e suicídio era puro marketing do ex-PGR Janot para vender seu livro.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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