No começo era o lero…

Ah, esses novos prefeitos. Esbaldam-se nos primeiros dias de mandato, agem como emissários da Providência, ungidos para salvar suas cidades. Sabem, embora finjam ignorar, que o importante não é o primeiro, mas o último dia do mandato, nada interessa como se toma posse, sim como se entrega o cargo.

Vide os neoprefeitos de S. Paulo e Curitiba. João Dória, o paulistano, promete envergar macacão de gari e, com seus colegas eventuais, varrer as ruas uma vez por semana. Fez isso no primeiro dia e diz que fará até o último. O modo como começa não exatamente abona sua declarada intenção: no dia anterior à sua estreia como gari o palco, praça Nove de Julho, passou por rigorosa faxina.

Já o nosso prefeito, Rafael Greca, age como o pubescente mal saído da infância e mal entrado na puberdade. Bem avançado nos cinquenta, vê a prefeitura como seu brinquedo predileto. Vende-nos a ideia de que com ele tudo é lúdico, risonho e fácil. Dizer que vive num otimismo panglossiano seria desmerecer sua inteligência; é ele que se lixa para a nossa.

Como pubescente o prefeito nos convida para seu turgor por Curitiba, turbinado em jorros de testosterona cívica, ele longe do terror do PSA. Nada contra, cada qual ama e nutre concupiscência por quem quer, como quer, no jeito, local e modo que quer. Acontece que Curitiba somos nós, e nas juras de amor de Rafael Greca pela cidade esse desejo ora platônico pode se concretizar sobre nós. E para Rafael Greca restará o melhor, o seu prazer de adolescente.

Paulistanos e curitibanos vivemos a expectativa de um prefeito aprendiz de gari e de outro que transita entre o parquinho e a exaltação da libido cívica.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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