No final, o Temer de todo o tempo

© Boris Karloff

Michel Temer fechou o governo de acordo com seu estilo, com a nomeação de Carlos Marun para exercer a função de conselheiro da Itaipu Binacional. Sua exoneração da Secretaria de Governo e a nomeação saíram no último “Diário Oficial da União” do governo Temer, nesta segunda-feira, dia 31. Marun se elegeu deputado federal pelo MDB do Mato Grosso do Sul em 2014. Licenciado para ser ministro, não disputou eleição em 2018. Ficará até 2020 na boca arranjada por Temer na Itaipu Nacional. O salário está entre R$ 20 mil e R$ 25 mil. O Conselho de Administração realizará seis reuniões anuais. Claro que na prática Marun permanecerá trabalhando por Temer em Brasília e sabe-se lá onde mais. Sem ironia, ressalte-se que a desfaçatez pelo menos firma um estilo. É a consagração de uma marca política.

É absurdo e totalmente improdutivo tecnicamente que os regulamentos da própria Itaipu permitam que seja feita uma nomeação como esta, mas é dessa forma que esta estatal vem sendo usada por vários governos — inclusive pelos militares, na época da ditadura de 1964, cabe lembrar nesses tempos de agora em que viceja uma memória equivocada do que foi o regime militar no aspecto da ética pública. Caberia ao governo Bolsonaro apresentar mudanças imediatas em coisas desse tipo, mas duvido que este presidente faça algo nesse sentido.

O esquema político de uso da Itaipu Binacional é praticamente uma regra. Passa de governo para governo. É o que acontece em qualquer empresa com o governo brasileiro no comando acionário e no caso desta usina hidrelétrica o processo é ainda mais interessante pelo fato da administração ser em conjunto com o Paraguai. Dessa forma, o Brasil mantém com um dos países mais corruptos do mundo uma parceria moralmente lamentável. Não é pouca coisa. A falta de ética e ausência de efetividade técnica é praticada no plano continental.

Como eu disse, a prática safada vem de longe. Com o PT no poder, Dilma Rousseff nomeou João Vaccari Neto, Jacques Wagner e Roberto Amaral para cargos da usina hidrelétrica. Na época, o salário dos conselheiros era de R$ 20,8 mil. Gleisi Hoffmann também já foi diretora da estatal, nomeada por Lula, de 2003 a 2006. Estava à espera do período eleitoral. É dessa forma que os políticos se arranjam para não sair do poder.

E como não podia deixar de acontecer, com Gleisi houve até um arranjo, quando ela teve que se sair para disputar eleição para o Senado. Numa relação moralmente honesta e do interesse de qualquer empresa, ela teria que se demitir. No entanto, Gleisi conseguiu ser exonerada. A presidência era ocupada por um amigo dela, o petista Jorge Samek, que foi inclusive testemunha de defesa em uma das ações penais contra o ex-presidente Lula. Segundo o Estadão, com a “demissão” deste cargo público a atual presidente do PT recebeu pelo menos R$ 145 mil.

São coisas desse tipo que precisam ser atacadas com seriedade para levantar o Brasil, reformando tecnicamente a administração pública. É algo para fazer sem alarde e demagogias, com a exigência de um dedicado trabalho político e administrativo, o que francamente não vejo como capacidade do governo que entra, que não tem esse objetivo. Cabe também dizer que abusos como o que acontece na Itaipu Binacional, além de noutras estatais e empresas de economia mista, nada tem ver com esta ou aquela cor de bandeira, embora a sem-vergonhice tenha sido muita debaixo dos panos vermelhos. Aqui temos, porém, uma conduta de políticos de várias colorações. Basta apenas não ter nenhuma vergonha na cara.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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