O Bandido Que Sabia Latim

leminski foto kremerRetícula sobre foto de Dico Kremer|1975

Conheci o Paulo Leminski no começo dos anos 60, século 20. Foi no Cine Clube Pró Arte do velho Colégio Santa Maria na Praça Santos Andrade. O Cine Clu­be projetava filmes fora do circuito de dis­tribuição norte-americano, proporcionando uma visão do chamado cinema de autor. Lá, víamos filmes da nouvelle vague francesa, do neorrealismo italiano, do novo cinema polonês e brasileiro, filmes japoneses, in­dianos, russos, tchecoslovacos e, também, filmes norte-americanos de reconhecidos realizadores. Depois da projeção as pessoas eram convidadas a um debate. Foi lá que co­meçamos a conversar e a ver que tínhamos interesses em comum: o cinema, a literatura, a poesia, as artes.

Pouco tempo depois fui a uma palestra que ele deu sobre poesia concreta. Época de pola­rização política, foi confrontado pelo pessoal de esquerda provocando acalorado debate. Fui duas vezes ao seu apartamento no edifício São Bernardo, na Dr. Muricy.

Mas nossa aproximação e a consequente amizade se deram quando da entrada do Le­minski no mundo da publicidade onde eu já atuava havia pouco tempo. Tivemos muitas conversas sobre poesia, fui apresentado à obra ‘de Ezra Pound, Charles Sanders Pierce, à semiótica, à vanguarda. Por outro lado, emprestei a ele livros de Isaac Deutscher, notadamente a biografia de Trotsky, E.H.Carr, Mário Pedrosa. Elaboramos um projeto, nunca realizado, talvez por minha culpa, de uma exposição fotográfica sobre o Templo Neopitagórico construído pelo poeta Dario Vellozo na Vila Izabel. Misturaríamos fotos com versos pinçados do Atlântida de Vellozo.

A agência PAZ, onde trabalhava, fez com que se editasse seu livro Catatau. Entre os anos de 1975 e 1983, nos víamos muitas vezes por semana. Poeta ainda sem livro de poe­sia publicado, consegui com os irmãos El -Khatib, o Faruk e o Faissal, da Grafipar, a publicação de seu primeiro livro de poesia em troca de trabalhos fotográficos que eu tinha prestado para a empresa deles. Assim nasceu o Não fosse isso e era menos não fosse tan­to e era quase. Convivi com o Paulo e a sua família: sua mulher, a poeta Alice Ruiz, seus filhos Miguel Ângelo, precocemente falecido, sua filha Áurea Alice e, depois, a filha Estrela.

Dico_Kremer_fotografado_por_Carmen_Lucia_KremerDico Kremer|Foto de Carmem Lucia|Revista Ideias|Agosto 2014|Travessa
dos Editores

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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