O caseiro do sítio de Atibaia

Seo Ináço, boas:

Escrevulhe éssais mautraçadas liãs pra mandá notícias do sitiozim. As criassão vai bêim, óbrigado. A péscina nóis alimpêmo e butamo cróro, a grêia da churrasquêra tomêm ariêmo.

Madeinusa, miã muié, espaiou bósta de galiã em sua órta e stá tudo verdim, verdim. Só os pédalim é que num devolvêro, até hoje stão com aquel’s hômi do juís.

Mudano de mala pra cuia. Seo Ináço, mi diga aqui uã coisa: os cabra do capitão tão dizeno que é pá nóis vortá pro Piauí, é?

Curr’diacho! Eu merrmo num me aburreço de arribá aqui das Atibaia. O póblema é meu minino, o Carlantóim. O rapái istudô, formô-si, pariu cuátu minino, trabáia em Sumpaulo feito um cachorro-véi a mó de assustentá a residença. E agora quére quiêle vórte pro Piauí anssim de rabo baxo?

Como é que póde uma disgrama dessa, siô? Êssis hômi só póde tá é demente de querêre uã doidice dessa. Adispois que o rapái stá no Sul têim vintitantuzano! Nã!

Óli o i-mêi que Carlantóim mandô, arrepáre na tristesa do meu fi:

“Papai, purecausa de nóis sê piauizêro, agora inventáro que é pra vortá pás banda di órige. É rumá os trêim e se largá pra Fulóriano e, de lá, a Buriti dos Lópe ou Pastos Bôins- têim jeito não…. Póristo, stô quereno vê se o sinhô me cedia um côm’du da casa aí do sítio, a mó d’eu me instalá com meu povo até susséga os nó-pelas-costa desse capitão, num sabe?”

Seo Ináço, vai sê póblema pra eu e pro sinhô. Pra eu, é máise boca pra cumê; pru sinhô é os hômi do juís increncano com esse povo todo aqui no sitiozim.

Purotrulado, num posso dá as costa ao Carlantóim. Fi é fi. É póristo que, cunversano máise a Madinusa, me vêi a ideia: o sinhô inda têim o apartamentozim do Guarujá? Purquê, sitivé, nóis pidiria pra o Carlantóim ir pralá, num sabe? Podia sê de casêro, agrégado, zeladô ou qualqué tipo de funçonáro. Êle tumárra de conta do drupéx como se fosse dêle, que ali stá um rapái geitosu e inducadu. O sinhô vejaí as dispossibilidades, oviu?

E o chadrez, seo minino, stão lhe tratanu direitiõm? Córitibas é lonje que só a baxa da égua. Sinão, eu já tiria idaí, máise Madinusa, lhe dexá uã cachaciã que perparamos. O povo chama a bicha de “Pixuleco”. Eita, pinga boa do cão, seo Ináço! Milhór qui essa, só duas dessa!

Recumendação de seo casêro, Élquisson.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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