Fala, loucura!

Com a voz, a Loucura. Neste libelo do teólogo Erasmo de Rotterdam (1469-1536), quem fala é a Loucura. Sempre vista apenas como uma doença ou como uma característica negativa e indesejada, aqui ela é personificada na forma mais encantadora. E, já que ninguém mais lhe dá crédito por tudo o que faz pela humanidade, ela tece elogios a si mesma. O que seria da raça dos homens se a insanidade não os impulsionasse na direção do casamento?

Seria suportável a vida, com suas desilusões e desventuras, se a Loucura não suprisse as pessoas de um ímpeto irracional e incoerente? Não é mérito da Loucura haver no mundo laços de amizade que nos liguem a seres imperfeitos e defeituosos? Nas entrelinhas de Elogios da Loucura, o humanista Erasmo critica todos osracionalistas e escolásticos ortodoxos que punham o homem a serviço da razão (e não o contrário) e estende um véu de compaixão por sobre a natureza humana.

Pois a Loucura está em toda parte, e todos se identificarão com algum tipo de loucos contemplados pelo autor. Afinal, como ele próprio diz: “Está escrito no primeiro capítulo de Eclesiastes: O número de loucos é infinito. Ora, esse número infinito compreende todos os homens, com exceção de uns poucos, e duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos”. 

Portanto, amigo, se você está rasgando merda ou comendo dinheiro (e vice-versa), fique tranquilo. Nem tudo está perdido. Coleção L&PM Pocket, Volume 278, 2007, tradução de Paulo Neves. Quem procurar, acha.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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