No creo en brujas, pero…

O FÜHRER constroi sua Gestapo. Jair Bolsonaro encheu-se de postura de estadista ao anunciar ontem, com serenidade e surpresa, que soube da investigação da Polícia Federal do suposto envolvimento do governador do Rio, Wilson Witzel, em fraudes no sistema de saúde estadual. O presidente diz que foi informado pela imprensa. Mentira descarada. Por quê? Porque em circunstâncias normais – um governo FHC, Temer, Dilma, Lula – o presidente seria informado por alto; se o fosse pela imprensa não haveria comoção.

Jair Bolsonaro expeliu o ministro Sérgio Moro porque este não o informava nem permitia que fosse informado das investigações da PF no Rio de Janeiro – onde, não por acaso e por causa disso, seu filho senador e assessores-parceiros eram investigados. Com Bolsonaro e o GSI por trás, a PF do Rio pode virar polícia política. O presidente passou por cima do próprio ministro da Segurança, competente para a supervisão institucional do órgão. Logo será a de São Paulo. Primeiro Witzel, depois João Dória, arquinimigos de Bolsonaro.

O presidente soube antes e foi informado antes. Os indícios estão claros. Primeiro, na serenidade, que o presidente não atinge nem sob anestesia geral. Segundo, porque o fato foi comemorado e anunciado um dia antes pela deputada Carla Zambelli, a Gleisi Hoffmann de Jair Bolsonaro. O fato de um governador do Rio ser investigado por fraude não é motivo de surpresa. Inocente ou culpado, qualquer governador do Rio sujeita-se a presunção de culpa, que só pode ser apagada por robusta prova em contrário. O passado revela que governador do Rio é bandido por natureza.

A investigação de Wilson Witzel não é abusiva, pois foi requerida pelo ministério público e autorizada pela justiça. Embora tenha intimidade perigosa com o procurador-geral da República, Jair Bolsonaro ainda não decide sobre a independência funcional dos procuradores. No modo como Jair Bolsonaro subverte a ação política e conduz o Brasil ao risco da ditadura e da guerra civil, investigar um governador não assusta. Assusta, sim, o presidente vender sua imagem de santidade e desinteresse. Ele ainda não tem sua Gestapo. Mas já seleciona os agentes.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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