O imaturo príncipe do Iguaçu

De vez em quando, o Zé Beto, patrono deste blog, arranja uns colaboradores que pecam pela genialidade. Nos tempos do pequeno Richa, foi G. Must, que batizou, com escorreita exatidão, o inquilino do Palácio Iguaçu de sir Charles Albert Richard, acrescido do epíteto “o garboso”. Agora, enriqueceu este espaço com a presença passageira do Vampiro de Dusseldolf com suas estocadas certeiras.

Não sei quem é (ou era) o Vampiro, mas desconfio. Seja quem for, o que importa é que, ao pesquisar a grande carência do atual governador deste pobre Estado sem talentos políticos e administradores ao menos medianos, o Vampirão descobriu ser a “personalidade”. Na mosca. Ou, como ele bem disse, “sua personalidade é tão distante, tão fluida, que mal se percebe”. E o sugador de sangue reforçou o argumento: “Por exemplo, alguém meteu na cabeça do governador que ele é um príncipe, como aquele de Mônaco, por acaso também filho de estrela do show business”. Ou, talvez, como aqueles das fábulas de Walt Disney, da Branca de Neve, de Cinderela e da Bela Adormecida.

Segundo o analista de Dusseldolf, o nosso príncipe delegou a administração do Estado a um primeiro-ministro, “que se comporta como um grão vizir dos quadrinhos de Asterix”. Como exemplo, cita o fato de posar para retrato a óleo no horário do expediente. “É complexo de regência una, o Regente Feijó agora em auto imposta menoridade do governador”.

Falta personalidade ao pequeno Rato como faltava para o Richa menor. Como gestores públicos, ambos Carlos, se equivalem. Ratinho Jr. é provinciano, despreparado e imaturo como era Richinha, ainda que associado do Country Clube. Com uma diferença ainda não superada: Carlos Alberto tinha suas espertezas (ou travessuras), cujo resultado acabou, como tinha que acabar, no Judiciário e hoje tem lhe tirado o sono. Uma amostra: quando a crise financeira atingiu o Paraná, Beto aumentou os impostos, congelou os investimentos e foi passar o fim de semana em Paris com dona Fernanda, num hotel cinco estrelas, às custas do erário.

Não creio que o infante roedor seja capaz disso. Ainda não. No entanto, certamente orientado pelo regente do seu governo, está preparando uma artice quase infantil. Além de haver excluído os servidores do Executivo do recente aumento de salário conferido ao Judiciário e Legislativo, vai oferecer a eles um curso de “protagonismo”, ministrado pelo pensador gaúcho Leandro Karnal. Mas apenas aos comissionados, aquela “gente da casa”, “gente nossa”, que lá está por deferência do patrão. Ridículo. Seria até engraçado, se não fosse triste.

Se os servidores do Executivo, comissionados ou não, pecam pela falta de protagonismo, que dizer da figura maior da administração estadual? Ao que consta, ser protagonista é estar à frente dos acontecimentos, dominando a área de atuação e buscando melhores resultados. Ratinho II não fez nada disso em 2019. Ou seja, desperdiçou o primeiro ano de seu governo.

Quando o jovem príncipe do Iguaçu foi eleito, calei-me. Havia uma preocupação maior, representada pela eleição do capitão reformado para o trono central de Brasília. Entretanto, alguns meses antes, ao relacionar os postulantes ao governo do Estado, eu escrevera aqui neste espaço: “Ratinho Júnior, na carteira de identidade Carlos Roberto Massa Jr., veio de Jandaia do Sul e surfa na popularidade do pai, o Ratão do SBT, o que já lhe valeu um mandato na Assembleia Legislativa do Estado e dois na Câmara Federal. Desse tempo não se tem notícia. Ah, sim, segundo a Wikipédia, foi autor da proposição de lei que isenta os motoristas de ônibus escolares de pagar IPI. Na gestão do pequeno Richa, foi, deixou de ser e voltou a ser secretário do desenvolvimento urbano do Paraná, sem deixar vestígios a registrar.”

Quando participou do insuportável debate dos candidatos montado pelas emissoras de TV, Ratinho Jr. sustentou que o Paraná esteve na mão de dinastias nos últimos trinta anos, esquecendo-se da sua condição de “delfim da dinastia que se inicia”, como registrou o feroz Rogério Distéfano, no blog “Insulto Diário”. O fato foi apontado pelo concorrente João Arruda, sobrinho-nepote do chefe da outra dinastia.

Não obstante, eu tinha esperança no vice, Darci Piana, que, na minha opinião, deveria ter sido o cabeça da chapa. Piana era e é uma figura de respeito no mundo empresarial/administrativo paranaense. Gaúcho de Carazinho, aportou no Paraná na juventude. E aqui foi de tudo, cresceu, realizou e chegou à presidência da Fecomércio, sistema que congrega o Sesc e o Senac. É sério, trabalhador, dinâmico, respeitado por gregos e troianos. Como homem de ação, tem muito o que dar ao governo do jovem príncipe do Iguaçu. Não sei se está dando. Ou se a sua ajuda é recebida.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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