O senador Renan Calheiros lidera movimento pelo referendo nacional sobre a privatização de estatais, como a Eletrobras e os Correios. Não é bem assim. Ele se movimenta contra a desapropriação das estatais, que, privatizadas, sairiam da propriedade dos políticos, como aconteceu com a Petrobras. A privatização tiraria dos políticos a possibilidade de arrancar dinheiro delas e nela inserir seus protegidos – que operam os interesses dos políticos nas diretorias e gerências. A Operação Lava Jato mostra como funciona.

Quando políticos como Renan e Roberto Requião, seu acólito na campanha, fazem isso, o que está em jogo não é o interesse público. É o interesse deles. Justiça seja feita a Roberto Requião, que não tem a folha corrida de Renan, nem o histórico de processos judiciais por atentados ao patrimônio público. Mas a reação de Requião contra privatizações no Paraná tem a ver com o mesmo interesse fisiológico de Renan Calheiros. Conferir a crônica do Porto de Paranaguá, da Sanepar e da Ferroeste.

O Plebisul convoca para o próximo sábado a consulta sobre a separação do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul da República Federativa do Brasil. O movimento parte de uma premissa falsa e outra contraditória, como revela a convocação: (1) não há desrespeito aos demais estados da federação, mas (2) revolta contra os políticos de Brasília. Premissa falsa porque a simples ideia de separação é desrespeitosa, pois revela desconforto em pertencer à mesma união de estados que forma a federação. Contraditória porque a revolta contra os políticos de Brasília não justifica a separação pela simples evidência de que os políticos de Brasília vêm também dos estados do Sul.

Sim, quem está mais visado hoje em Brasília, tirando Michel Temer? Eliseu Padilha, do Rio Grande do Sul, Osmar Serraglio, do Paraná, um por estar no pedido de abertura de processo com o presidente Michel Temer, outro porque engendrou e patrocina o escárnio legislativo da reversão nos cartórios. Escapa-me o nome do vilão catarinense. Uma ideia infantil e tola essa de que, separado, o Sul evolui, se fortalece. É exato o contrário. Nossa secessão foi gestada no ventre que pariu a apologia do golpe militar, com os mesmos sinais característicos do imediatismo das soluções fáceis e da preguiça de lutar pela transformação.

Alguém em sã consciência pode supor que separando os estados os ‘homens de Brasília’ não farão no novo país, a República do Pacasul, o que fazem em Brasília? Veja-se pelo Paraná. Nossos homens públicos do momento receberão os santos óleos da secessão e ficarão purificados, limpos de mãos e almas. Nelson Justus calçará as sandálias de são Francisco, Luís Cláudio Romanelli transforma-se em são Benedito, líder de ordem mendicante. Ou Beto Richa, converte-se num papa Francisco, Rafael Greca em Madre Teresa de Calcutá, João Cláudio Derosso surge puro e inocente como um Lázaro redivivo. A Gleisi Hoffmann do Pacasul, carmelita, descalça e calada?

Ora, Plebisul, poupe-nos, lute pelo voto consciente e estimule a vigilância sobre o Estado e os políticos neste Brasil de Cabral, milagre de unidade política, territorial, cultural e linguística. Desde a época colonial o Brasil luta para se manter um só, sangue valoroso foi derramado para isso. Os separatistas ignoram a história e o que se lutou para a construção deste país. Nem os gaúchos, tidos como separatistas pelas suas revoltas, quando se proclamaram independentes, só o faziam para obter o reconhecimento do Império que os ignorava – acolhidos sem sangue e com amor pela sensibilidade de Caxias.  O caminho contra os ‘homens de Brasília’ é outro. Estudem nossa História. Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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