O irritante guru do Méier

Dinheiro, diz lá a Enciclopédia Britânica, é aquilo que usamos para pagar coisas. Dinheiro, afirmo eu, é aquilo que o trabalhador ganha com o suor do seu rosto, que os estróinas esbanjam nas buates, que o herdeiro recebe como herança, que o economista trata como ciência, que a dona de casa teme que seu marido não vá ganhar o bastante para as despesas do mês.

Dinheiro é aquilo com que o Coronel atrai a mundana, é o que se imprime na casa da moeda, o que os banqueiros emprestam a juros e os usurários a juros ainda maiores, o que os falsários falsificam, o que não vale nada nas épocas de inflação, o que corrompe como subôrno e o que redime como filantropia. Dinheiro é o que as mulheres não sabem nem querem saber de onde vem, os maridos não sabem onde buscar, o rico não sabe quanto tem, o pobre jamais tem o suficiente e o comunista não tem o mínimo necessário. Dinheiro é o talento dos poderosos, o legado dos que partem para sempre, o prêmio da economia, o objetivo dos ladrões, o poder do capitalismo. Para os racionalistas é um preconceito como outro qualquer, para os inconformistas é um mal  que deve ser estirpado da sociedade. É a dor do mendigo verdadeiro e o desespêro falso do mendigo falso que quer tomar uma sopa falsa, que sabemos vendida em garrafa.

O dinheiro é um mito de tal forma acreditado que se transformou numa super-realidade, uma senha para o respeito alheio, e se já foi boi na antiguidade hoje é tão limpo quanto fôr o cheque que você tem no bôlso. É viagem e tranqüilidade e que se não traz felicidade pelo menos paga tudo que esta gasta.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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