O livro que ensina mães a não lerem livros

“Bebês e Suas Mães”, de Winnicott, mostra importância de seguir a intuição materna

“Quando vejo alguém que claramente está prestes a ter um bebê, sou tomado pela mesma sensação que tinha durante a guerra, quando me encontrava com pilotos da Força Aérea[…]”. Essa é uma das muitas afirmações que comprovam como o famoso psicanalista e pediatra Donald W. Winnicott, referência mundial em questões da infância, conseguia dimensionar a mudança ocasionada pela maternidade na vida de uma mulher.

“Bebês e Suas Mães”, por exemplo, é um livro que todas as grávidas e mães (e qualquer pessoa interessada no despertar da vida humana, em criar crianças e em psicanálise) deveriam ler. E, o mais curioso, trata-se de uma obra que tem como tema central a seguinte lei: não leia livros, não escute os outros, toda genitora bem conectada ao seu filho sabe o que deve ser feito.

O livro teve origem nas emissões da rádio BBC, em que Winnicott tratava de questões fundamentais da primeira infância. Em boa parte das suas falas, se dirige a enfermeiras que se metiam demais na vida das puérperas. O autor chega a dizer, décadas antes do surgimento do termo “violência obstétrica”, que nos hospitais, ou mesmo nos partos em casa, eram cometidas atrocidades com as mulheres, o que dificultava tremendamente a relação delas com seus filhos.

Ele tem resposta para tudo. Até para as zelosas e culpadas, que tratam seus reizinhos como divindades absolutas e temem que eles se tornem jovens com dificuldade para frustrações, o psicanalista diz: “Não é só depois de ser Deus que os seres humanos encontram a humildade própria da individualidade humana?”.

Se mesmo depois de Winnicott dizer que não precisa ler livros, você achar importante ler este, que é um dos melhores sobre o tema, ficam aqui alguns dos fabulosos ensinamentos (só pra te dar um gostinho):

O bebê necessita de um ambiente suficientemente bom para que seu crescimento seja contínuo. Falhas no ambiente nesse estágio acarretam problemas psíquicos que podem durar por toda a vida.

A mãe sabe o que fazer com o seu rebento porque está identificada com ele e também porque já foi uma recém-nascida (e guarda essa lembrança em seu inconsciente). O inconsciente do bebê é o inconsciente da mãe.

O bebê se sustenta psiquicamente através do suporte egoico materno. O bebê se comunica através do seu desamparo. O bebê pensa no seio da mãe e o seio da mãe aparece; ele então acha que criou uma demanda a partir do seu desejo e aprende a confiar na mãe e, posteriormente, no mundo e na vida.

Quando o bebê bate ou chuta a mãe, ele precisa compreender que ela sobrevive à sua violência. A mãe vai falhar o tempo todo e reparar essa falha. Isso é humano e suficientemente bom. A falta é importante para que a criança saiba fantasiar. Mas, se a reparação demorar a acontecer, a intensidade do pânico da criança na fase da dependência absoluta (sensação de desintegração e ansiedade desmedida) pode ser traumática.

Mães, apostem em seu bom senso e em sua capacidade de amar! Isso deveria bastar.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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