O novo ministro da Educação e o velho Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro anunciou o novo ministro da Educação e não há muito o que falar dele, pois mesmo se fosse altamente capacitado na área dificilmente conseguiria fazer um trabalho de qualidade no ministério. Na verdade, com Bolsonaro na chefia é impossível até mesmo chegar a um rendimento razoável.

É patética a condição em que entra este novo ministro. Como nada está de pé no Ministério da Educação, com funcionamento precário até no que é mais básico embora o governo já esteja na metade do segundo ano, na prática ele terá que passar um período como se estivesse em um governo de transição. Quem sabe, um dia eles comecem de fato a trabalhar.

O presidente é um homem de múltiplas limitações, sendo além disso muito autoritário, grosseiro e ansioso para que suas vontades deem resultado de imediato, de modo que ele passa o dia atazanando seus subordinados, até mesmo por canais externos ao trabalho de governo. Para pressionar, Bolsonaro usa até a máquina de fabricação de fake news, que felizmente vem sendo desmontada pela ação da Justiça e até mesmo pelas plataformas que ganham muito dinheiro com o clima de zorra política e cultural criada por elas próprias.

Bolsonaro e seus seguidores passaram dos limites até do Facebook e Twitter, empresas que lucram com a balbúrdia, abrindo espaços para a liberação dos piores instintos, para a desinformação e a manipulação política. Pelo que se soube, a família Bolsonaro ocupou as redes sociais com o estilo de um “Escritório do crime” em Rio das Pedras, com a diferença que, conforme descobriu o próprio Facebook, a sede deste escritório digital fica no Palácio do Planalto.

No início de abril, quando Luiz Henrique Mandetta ainda era ministro, na entrada de uma reunião ministerial ele foi questionado por Bolsonaro sobre uma notícia que havia circulado no fim de semana, falando da renovação pelo ministério de um contrato de R$ 1 bilhão firmado no governo Dilma. A notícia era falsa. E alguém acha que Bolsonaro não sabia disso? É capaz que soubesse até de onde tinha vindo o fake news, que afinal, para ele é um modelo de governo.

Para atrapalhar o trabalho de Mandetta durante a pandemia chegaram até a fazer um perfil falso dele no Twitter, onde saíam críticas a Bolsonaro como se estivessem sendo escritas pelo ministro.

Agora, em julho, logo que o Facebook desbaratou a rede de milicianos digitais bolsonaristas, revelando que o responsável trabalha ao lado do gabinete presidencial, como assessor de Bolsonaro, ele publicou em seu perfil verdadeiro o seguinte:

“Que feio! Então eram vocês… Quem poderia  imaginar? O Facebook tirou do ar. Descobriu hoje? Demorou hein! Solidariedade a todas as vítimas das quadrilhas cibernéticas.”

O que ocorreu com Mandetta no Ministério da Saúde serve como exemplo de que nada pode dar certo neste governo, independente da qualidade pessoal do ministro. A atual condição da pandemia no Brasil, que ontem passou dos 70 mil mortos, mostra que a linha de trabalho proposta por Mandetta era a correta e que Bolsonaro sempre esteve completamente errado também nesta crise sanitária do coronavírus.

Vamos aos fatos. No dia 22 de março, Bolsonaro disse o seguinte: “No ano passado, o número de pessoas que morreram de H1N1 foram (sic) da ordem de 800 pessoas, a previsão é não chegar a esta quantidade de óbitos no tocante ao coronavírus”. Quando Bolsonaro fez esta tola previsão o Brasil tinha 1.546 casos confirmados, com 25 mortes registradas.

Como todos sabem, a opinião de Mandetta era diferente. O então ministro alertava sobre a duração e os riscos da pandemia, trabalhando com previsão científica da possibilidade de uma quantidade enorme de mortes, que poderia levar ao colapso do sistema hospitalar, com o risco, como cabe sempre apontar, da falta de atendimento evidentemente atingindo também pacientes de qualquer outra doença.

O plano de trabalho de Mandetta era intensivo, o de Bolsonaro era deixar a coisa acontecer, afinal sua previsão era de que menos de 800 pessoas morreriam da doença. Nesta sexta-feira o registro superou 70 mil mortes: exatamente 70.524. O número de mortes em 24 horas foi de 1.270. Já morre por dia mais gente do que Bolsonaro previa para toda a pandemia.

Alguém acha que é possível fazer alguma coisa de qualidade em um governo comandado por este sujeito sem noção? Vivemos uma tragédia que só não é maior por causa da ação de governadores e prefeitos, trabalhando sob o ataque cerrado de Bolsonaro, que atua o tempo todo como sabotador do esforço nacional contra o coronavírus.

Imaginem como estaríamos agora se a base da ação fosse a previsão de um total de 800 mortos. E é desse jeito que este presidente age em qualquer setor, feito uma saúva acabando com o Brasil. Por isso não cabe esperança de que algo pode ser feito com uma qualidade razoável neste governo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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