O pastor da falsa virtude

O DEPUTADO MARCO FELICIANO, da bancada evangélico-bolsonara, justifica as grosserias do presidente e de alguns ministros: “o Brasil era governado por gente de bons modos e maus princípios”; agora são maus modos compensados por bons princípios.

FELICIANO destrói a mais sofisticada lição de relações humanas, vinda do Duque de La Rochefoucauld, lá nos idos do século XVII: “A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”. O deputado não teve o “bom princípio” de conhecer o Duque.

OS MAUS MODOS do presidente da República, que induzem igual comportamento aos ministros, têm a justificação de seus bons princípios. A hipocrisia de La Rochefoucauld são os maus princípios escondidos sob bons modos porque respeitam a força dos bons princípios.

DIFÍCIL, abstrato e sofisticado demais. Difícil mudar o comportamento bolsonárico, dos maus para os bons modos? Não, se os bons princípios estão sempre lá, o que custa associá-los a bons modos? Não tira pedaço, não faz mal; ao contrário, faz bem a todos.

O ARGUMENTO do deputado é tolo, como tolos os do mesmo naipe e origem (menino de azul, menina de rosa, etc). Não merece os quatro parágrafos acima, pois só convencem os que estão convencidos de que a grosseria fortalece os bons princípios.

DISSE ACIMA que o deputado é daqueles pastores evangélicos que só entendem o Velho Testamento com as ameaças de Deus. Quando no púlpito deve ter ignorado o Sermão da Montanha, das palavras de Cristo, presentes nos Evangelhos.

O SERMÃO DA MONTANHA traz as ‘Bem Aventuranças’ proclamadas pelo Filho de Deus. E nelas não se vê em momento algum a valorização dos maus modos. O Sermão ensina o exato contrário, a tolerância e a mansidão. Vamos conferir algumas:

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus. Bem-aventurados os Defensores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus.

O QUE CONCLUIR da tosca e mistificadora lucubração do deputado-pastor Marco Feliciano. Primeiro, é um falso pastor, que renega as verdades e lições de seu ministério. Segundo, é um hipócrita que homenageia o vício como virtude.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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