O prêmio à venda

Banks não foi o único a vender sua medalha de campeão

O goleiro inglês Gordon Banks morreu outro dia, aos 81 anos. No jogo Brasil x Inglaterra, da Copa do Mundo de 1970, no México, ele pegou uma cabeçada à queima-roupa de Pelé, que a física depois definiria como indefensável. Pelé a desferiu quase da pequena área, violentamente, de cima para baixo e com a bola quicando no chão quando Banks já estava no ar. O normal seria que, quando ele acabasse de cair, ela entrasse por cima dele. Mas Banks, num prodígio de contorcionismo, a defendeu. Isso fez dele um dos dois ou três maiores goleiros da história. Na Copa anterior, de 1966, na própria Inglaterra, Banks já fora campeão por seu país.

Nos telegramas sobre sua morte, informou-se que, em 2001, Banks vendeu sua medalha de campeão do mundo num leilão em Londres. Ela foi arrematada por 124.750 libras —nada mal, embora talvez valesse mais, considerando-se de quem era. Banks pode tê-la vendido porque, naquele momento, o dinheiro lhe devia ser mais importante que a glória.

Ele não foi o primeiro campeão do mundo a se desfazer de seus prêmios. Volta e meia surgem nos leilões do Rio objetos ligados a um deles —a miniatura da taça Jules Rimet com que todos eram contemplados, a camisa de um jogo da Copa ou a própria medalha. Raramente ou nunca a peça é encaminhada pelo próprio jogador —porque ela já não lhe pertence. Vem de algum intermediário a quem ele, aí, sim, vendeu por uma mixaria.

E há souvenires que não chegam nem a isso. A camisa de Garrincha usada na final de 1962 não foi depositada numa igreja, como ele pediu. Um amigo a guardou, toda suada —até descobrir, décadas depois, que as traças a haviam devorado.

Pior ainda aconteceu com os dois Grammys que João Gilberto ganhou pelo disco “Getz/Gilberto”, em 1964. João enfiou-os num armário, em Nova York, onde morava. Tempos depois, ao mudar-se, vendeu os armários —com os prêmios dentro.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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