O que as mulheres querem?

Posso trocar ‘passar uma tarde com um príncipe’ por coisas mais úteis?

É a pergunta que vale milhões. O presidente Jair Bolsonaro acha que todo mundo gostaria de passar a tarde com um príncipe. Principalmente nós, mulheres.

Não conheço nenhuma com mais de seis anos que tenha esse tipo de desejo, além disso, eles geralmente moram na Disney, não em ditaduras que nos oprimem. Mas para não dizer que estou de má vontade, decidi dar um check na minha listinha de prioridades, vontades e sonhos. Vai que tem um “passar uma tarde com um príncipe” e não me dei conta.

Passar uma tarde com um príncipe… nada aqui. Passar uma tarde com um príncipe… aqui também não. Posso trocar “passar uma tarde com um príncipe” por umas coisinhas mais úteis da minha listinha?

Bebida que não dá ressaca. Teletransporte. Cama que se arruma sozinha. Secador que faz o serviço em 10 segundos. Chocolate sem calorias. Alface com sabor de cheeseburguer. Exterminador de gente chata. Detector de homem que não presta. Máquina do tempo. Fonte da juventude. Chiclete que não perde o sabor. Óculos para leitura dinâmica. Cadeira de trabalho que endurece a bunda. Semana de trabalho de segunda a quinta.

Bem, passar uma tarde com um príncipe deve ser bem mais fácil. Não estou achando príncipe, vale rei? Que tal rei do jazz? Tem aqui, passar uma tarde vendo John Coltrane criar A Love Supreme. Tem também passar uma tarde com Luiz Gonzaga, o rei do baião. E passar uma tarde com o rei do basquete, Michael Jordan? Tem uma penca de rei com quem eu passaria a tarde: Carl Sagan, Kubrick, Hitchcock, Freud, Einstein, Allen. Meu tipo de herói.

Olhando ainda a listinha. Passar a tarde com um príncipe… passar a tarde com um príncipe… não, não está na lista. Talvez “passar a tarde com um príncipe que mandou matar um jornalista”?! Também não. Vamos tentar “passar a tarde com um príncipe que mandou matar, esquartejar e jogar num saco de lixo um jornalista opositor”?! Hum… não, não tem nada por aqui.

Por último, resolvi dar uma olhada no meu caderninho do Dane-se. Tenho um na mesa do escritório, que sempre me ajuda a focar em metas e prioridades. Vamos lá… Corpo perfeito. Dane-se. Opinião alheia. Dane-se. Estresse. Dane-se. Gente chata. Dane-se. Amizades falsas. Dane-se. Puxa-saco de político. Dane-se. Dramas familiares. Dane-se. Ahhh… aqui… sabia que já tinha visto isso, talvez lá quando eu tinha seis ou sete anos: passar a tarde com um príncipe… É isso, bem aqui, finalmente achei, anotadinho na lista do que eu não preciso fazer. Meu mais singelo e respeito “dane-se” aos príncipes, presidente. Ainda mais desse tipo aí, que oprime e mata mulheres, gays e opositores.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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