O Que é Isso, Companheiro?

  Nóis dois vivia intocado e clandestino
Nosso destino era fundo de quintar
Desconfiavam que nois era comunista
Ou terrorista, de manchete de jornar
Nois aluguemo casa na periferia
No mesmo dia, se mudemo para lá.
Levando uma big de uma metralhadora
Que a genitora se benzia ao oiá.

Nóis pranejemo de primeiro um assarto
Com mãos ao arto, todo mundo pro banheiro
Nois ria de pensar na cara do gerente.
Oiando a gente, conferindo o dinheiro.
Mas o tal banco acabô saindo ileso
E fumo preso, jurando ser inocente.
Nois não sabia que furtar de madrugada.
Era mancada pois não tem expediente.

Despois de um ano apertado numa cela.
O sentinela veio e anunciou:
“O delegado pergunto se ocês topa
Ir prás oropa, a troco de um embaixador”.
Na mesma hora arrumemo passaporte
Pois com a sorte não se brinca duas vez.
E os passaporte que demos no aeroporto,
Era de um morto e de um lord finlandês.

E quando veio aquela tar de anistia
Nem mais um dia fiquemo no exterior
E hoje já fazendo parte da história
Vendendo memória, hoje nois é escritor.

Guca Domênico e João Lucas – LP Língua de Trapo|Lira Paulistana|1982

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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