O sumiço de Paulo Guedes

Não que eu esteja me queixando de falta de animação no governo Bolsonaro, mas vocês repararam no desaparecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes? Não, ele não está em viagem para o Japão, com o presidente Jair Bolsonaro. Guedes não faz parte da comitiva que foi à reunião do G20. O motivo da sua ausência não foi divulgado.

Bem, nem é preciso dizer que a situação do ministro não é a de um “Posto Ipiranga”, como Bolsonaro vive dizendo desde a campanha eleitoral, para justificar que também de economia ele não entende nada. Mesmo a reforma da Previdência que segue no Congresso Nacional não é a de Guedes. A que ele mandou foi toda desmontada pelos parlamentares. Fizeram uma nova, aproveitando inclusive para aparecerem como os bonzinhos que excluíram as maldades do ministro. Nesta reforma não tem a marca essencial da proposta do governo, mesmo que Bolsonaro não estivesse sabendo, que seria a mudança para um sistema de capitalização.

Era o grande lance de Guedes, a salvação da lavoura, como se dizia antigamente. Como fazer sem o remédio essencial, a panacéia indispensável para evitar que o Brasil afunde estrondosamente em um buraco sem fundo? Era o que dizia Guedes, em tom de ameaça que atingia várias gerações, desgraçando o futuro até dos nossos tataranetos.

Mas não foi só com a Previdência que o ministro perdeu o comando para o Congresso. Estimulado pelo vazio de articulação do governo Bolsonaro — problema agravado pelo estilo de pouca conversa de Guedes e sua fixação obsessiva na Previdência — Rodrigo Maia puxou também para o Legislativo outros temas importantes da economia, como a mudança no FGTS, autonomia do Banco Central e a reforma tributária.

O presidente da Câmara montou uma equipe que em matéria de prestígio faz sombra para o ministro da Economia. Para cuidar da pauta econômica ele chamou Samuel Pessôa, Bernardo Appy, Marcos Mendes e Marcos Lisboa. Todos liberais, cada um deles com mais experiência na atividade pública que o ministro Guedes e juntos formando um ministério que faz do Posto Ipiranga de Bolsonaro um postinho largado de beira de estrada de terra.

Na prática, mudanças na economia estão sendo pensadas pelo Legislativo. A hábil puxada de tapete de Maia minou o respeito e a credibilidade de Guedes. Seu sumiço terá algo a ver com este desprestígio? Pode estar pensando em uma carta de demissão, planejando cumprir a ameaça que fazia o tempo todo, achando que dessa forma obrigaria os políticos a acatarem suas ordens sem nenhuma discussão.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em José Pires - Brasil Limpeza e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.