Olavo de Carvalho e Bolsonaro: coveiros do conservadorismo brasileiro

Jair Bolsonaro postou um texto em suas redes sociais em referência às operações da Polícia Federal contra seus apoiadores suspeitos de envolvimento com esquemas de fake news e manifestações contra o Congresso e o STF, colocando-se como defensor da democracia e contrário ao autoritarismo. O presidente também argumenta que as ações da polícia são para excluir o pensamento conservador do debate público.

O texto vem literalmente do pensamento de Olavo de Carvalho, especialmente no tocante à alegada perseguição aos conservadores, reclamação que chega ser engraçada. Se de fato os conservadores não tivessem espaço em nosso país o próprio Olavo não teria tanta fama, que ele conquistou escrevendo na nossa imprensa e sendo objeto de entrevistas e reportagens onde fala o que quiser. E creio que nem é preciso dizer que a direita elegeu um presidente, embora ele não saiba de forma efetiva o que fazer com o poder, além de também faltar a esta direita a capacidade de articular qualquer pensamento lógico, muito menos conservador.

Mas o mais grave para os conservadores é que o texto de origem olaviana incorre em outro equívoco teórico do guru do Bolsonaro, que procura identificar o conservadorismo com o que vem sendo feito pela direita no Brasil, relacionando as asneiras desse governo e de seus seguidores ao pensamento conservador. Eles dão um jeito de juntar Edmund Burke, Steve Bannon, Trump e até Sarah Winter, com larga vantagem aos três últimos. Olavo de Carvalho faz isso o tempo todo, transcrevendo o que ouve nos programas de rádio mais loucos da direita americana e vendendo este peixe podre aos seus discípulos e ao próprio Bolsonaro, que degustam e depois vomitam nas redes sociais como se fosse a mais fina receita conservadora. Com isso, aí temos o conservadorismo brasileiro ligado à criação de fake news e o lançamento de rojões contra o prédio do STF, além de associado a este governo de doidos.

O interessante neste despropósito é que de certo modo o guru da Virgínia vem fazendo algo parecido ao que aconteceu com Lula e seu partido em relação à avacalhação da esquerda e também o desgaste de muitas ideias universais do campo político progressista. Os petistas criaram muita dificuldade para o feminismo, a militância racial e movimentos de direitos dos homossexuais, por exemplo, que se fecham cada vez mais em discursos intolerantes, que ampliam as divergências em vez de abrir para a melhor compreensão dos problemas. Com o estrago petista ficou difícil até defender a distribuição de renda neste país. Desse jeito acabaram abrindo espaços para uma direita de uma grosseria impressionante, como se viu na vitória de Bolsonaro.

Sempre teve por detrás do surgimento do PT a história de que o fortalecimento de Lula e a fundação de seu partido vieram de uma artimanha do general Golbery do Couto Silva, que parece ter sido o último intelectual do Exército Brasileiro. No governo Geisel foi feita uma reforma partidária com o objetivo de acabar com o antigo MDB, antes das eleições para a Câmara e o Senado em novembro de 1982. O partido da ditadura era a Arena, já bastante combalida.

Além do desmonte do MDB, outro alvo dessa fragmentação era a força crescente de Leonel Brizola, mas a reforma partidária da ditadura alcançou ainda mais sucesso com o advento do PT e sua incrível capacidade de atrapalhar qualquer tentativa de unidade da oposição, que até hoje eles são muito bons em atrapalhar.

O general Golbery teria ficado surpreso com a eficiência de seu plano, no estrago promovido por Lula e o PT, fixando na esquerda até a marca da imoralidade e do roubo aos cofres públicos. Mas agora temos mais esta demolição de imagem, com Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro desmoralizando o pensamento conservador, que com eles tornou-se sinônimo de grosseria, ineficiência e de uma visão atrasada em tudo, até nas atitudes menos complexas intelectualmente, como o enfrentamento de um vírus que mata e pode arrasar o sistema sanitário de um país.

O que um Edmund Burke acharia de autointitulados representantes do conservadorismo que teorizam contra a existência de covas abertas para enterrar às pressas milhares de cadáveres? Está aí um bom tema para a dissertação de conservadores brasileiros, caso eles ressuscitem depois da desmoralização feita por Bolsonaro e seu mentor intelectual Olavo de Carvalho.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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