Um país colostomizado

Lama.
Lama, lama infinita, lama por toda parte.
Lama de todas as cores, odores e horrores.
Lama muito além do vergonhoso mar de lama
a que estamos acostumados.
Lama que escorre da política, se esparrama
pelos governos, se espalha na justiça.
Lama na indústria, no comércio, nos serviços,
enxurrada de negligências na infraestrutura.
Lama desde longe, do eterno lodaçal da nação,
lá do fundo do lamaçal da história.
Lama a invadir a alma, a inundar o dia a dia,
tsunami de lama a enlutar o país.
Lama no solo e no subsolo, nos dejetos e rejeitos,
lama sem jeito.
Lama misturada a lodo e engodos, ao barro e ao sarro.
Lama do corporativismo, do fisiologismo, do nepotismo.
Lama na Bolsa, nos bolsos que embolsam tudo e
também na bolsa bolsonara.
Lama na faca enlameada, nos carros enlameados
do Queiroz, nos depósitos enlameados dos laranjas.
Lama a encobrir os assassinos de Marielle Franco.
Lama que enterrou Mariana, soterrou Brumadinho
e atola Brasília.
Lama que desterra milhares, aterra 206 milhões,  
arrasta todos, arrasa tudo.
Lama tão impune que deixa o Brasil mais insone.
Lama, lama, lama, lama.

Onde se lê lama pode ser lido merda.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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