Outonalidades

O Outono, a mais outonal das estações, se alimenta de ouro e azul, um cardápio matinal servido na bandeja do céu. Antes, a alvorada cozinha rabos-de-galo no leste, em fogo mais que brando. Meio acordado, o horizonte se clareia para o seu desjejum de matizes. Uma toalha algodoada se estende por 180º, salpicada de detalhes ferrugentos. Completamente amanhecido, o Outono sai a passear pelo dia.

Faceiro, é um flâneur elegante, cachecol de plátano ao vento, reverenciado por redemoinhos de cisco como se fossem cuscos. O Outono circula entonando canteiros, entoando viveiros, tão à toa quanto é possível para uma estação. Todo trajado de anil, segue rumo à tarde, deixando atrás de si a limpidez da época. Solitária na paisagem, uma pandorga engravata o peito enfunado do Outono, que já se ajeita, tingido de poesia, para se aninhar no poente. Esplendoroso, o Outono se despede de mais um dia, posando de pintura impressionista.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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