Rui Werneck de Capistrano

outra-daqueles-tempos

O Roberto Duailibi é um gentleman. No melhor sentido da palavra. Posso garantir que foi o único que tentou me ajudar em São Paulo. Quando comecei a enviar textos meus pra ele, pensei que ia me mandar às favas e me ignorar. Mas, não. Um dia, me ligou e disse que estava em São Paulo um grande publicitário do México — só sei que o chamavam por Pato, ou Patto — e estava recrutando redatores.

O Duailibi agendou um encontro nosso no hall de entrada de um grande hotel. Lá fui eu. Foi uma conversa até que meio longa. Eu iria trabalhar na capital mexicana e blábláblá. Só que duas coisas me perturbaram de imediato. Uma, eu estava bem com a Heloisa, e o Ruizinho era pouco mais que um bebê. Outra seria trabalhar no México, com meu parco inglês e castelhano só pro gasto — uma temeridade. E, mais, na agência dele os criadores trabalhavam por contas. Eu iria fazer dupla com algum estrangeiro ou mexicano e atenderíamos uma conta. O emprego estaria garantido enquanto a conta fosse da agência. Ops! Fiz as contas rapidamente e me imaginei trocando figurinhas com um gringo qualquer lá no México. Por um momento, lembrei do Ambrose Bierce engajando no exército de Emiliano Zapatta e se perdendo entre cactos, tumbleweeds e poeira. Até música do Enio Moricone ouvi! Seria desafiador, porém sem garantia nenhuma. A conversa foi agradável, mas tive que dizer pro Duailibi, depois, que não era pra mim. Aí, ele me convidou pra trabalhar na Interação.

O que eu disser da Interação é meu ponto de vista. Pode ser que esteja errado, mas foi o que senti naqueles tempos. Pois, aí, um dia a dona da agência me chamou e perguntou se eu tinha alguma coisa contra trabalhar dentro de um banco — que era cliente — e exigia uma agência dentro da empresa. Era o que se chamava house agency – agência da casa, né? Em Curitiba, eu já havia tido experiência atendendo diretamente os clientes, quase dentro das empresas. Tem milhões de pessoas dando palpites, criando junto, atravessando ideias… Anúncios e campanhas passam por diversos departamentos e… eu já tinha visto alguns anúncios daquele banco. Sei lá quem fez, mas eram ruins comparados aos de outros bancos. Fui direto dizendo à dona da agência que não queria ir trabalhar fechado no banco. Isso, com certeza, abreviou minha permanência lá.

Pra sempre grato com Duailibi, só tentei mais algumas agências em São Paulo. E me mandei da grande Meca publicitária diretamente pra Núcleo Sul — agência que atendia Tubos Tigre, em Joinvile. Aí, todo fim de semana eu pegava o ônibus e ia a São Paulo. Fui algumas vezes, só eu e o motorista, no ônibus do Circo Aéreo do Carlos Edo — outra figura ímpar que conheci — e uma vez com o jatinho da Cia. Hansen. Ainda morava com a Heloisa. Era bem mais perto do que o México, mas ajudou a acabar com nosso casamento.

RUI-19Rui Werneck de Capistrano não é bobo nem nada

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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