Onde vamos parar? É a expressão comum entre uma das quatro categorias do brasileiro diante da crise atual: econômica, social, institucional e acima de tudo política. Fiquemos na política, que engloba todas. Quem se pergunta e nos pergunta ‘onde vamos parar’? É a categoria que chamo de depressivo cívico, daquele que se sente esmagado pelos escândalos e pelo cinismo dos homens públicos – com ajuda e cumplicidade de homens privados. Esse depressivo abate-se diariamente com o noticiário, não sente a mais remota possibilidade de melhoria. Derrotado, o Brasil pesa-lhe aos ombros, como a vida para os depressivos em geral.

Falei em ‘categorias. Nestas não vige abatimento, desânimo, dúvida ou quebrantamento.. São três, a saber: os órfãos de Lula, os afilhados de Bolsonaro, e os indiferentes. Os dois primeiros se parecem, vistos no plano bíblico poderíamos chamá-los de irmãos, como Caim e Abel, os irmãos que venderam José ao Egito e destilam uns aos outros aquele rancor só possível entre irmãos. Não têm depressão, mas vivem alimentados e fortalecidos pelo ódio: os órfãos de Lula odeiam os afilhados de Bolsonaro e vice-versa. Buscam a volta de seus líderes com métodos iguais: Lula diz que ainda prenderá os rapazes da Lava Jato; Bolsonaro quer o retorno da ditadura militar.

Órfãos e afilhados sabem o que querem: destruir um ao outro. O ódio conduz a isso, por ser alimentado todos os dias, seja pelo que entendem como calúnias, seja pela própria frustração por aquilo que perderam ou pelo que podem ser impedidos de ter ou recuperar. E há os indiferentes, de matizes que vão da alienação completa à atitude contemplativa do espetáculo. Os contemplativos interessam aqui. Porque não agem, seja pela índole indolente, seja pelo ceticismo com a natureza humana, que para eles subsistiu e chegou aqui na disputa desigual entre a barbárie e a civilização. Para eles a batalha final será vencida pela barbárie.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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