“Ex-empresária pede a apreensão do passaporte de Rodriguinho”. Manchete do jornal Extra de domingo. Me deu um frio na barriga. Não por isso de apreender passaporte, nem que seja o de Rodriguinho, que para nós hoje em dia é um só, o moço que Michel Temer fez deputado e agora faz estragos na presidência do chefe.

O que me assustou foi o lance de “ex-empresária”. Essas coisas acontecem com quem lê notícias por alto, nas chamadas da internet, como acontece com o blogador. Pensei em voz alta, ‘agora tem empresário de traficante de influência?’ Sei que tem, mas em outro nível, de Eduardo Cunha e Sérgio Cabral, por exemplo.

Fui adiante, que alívio! Era outro Rodriguinho, mais antigo na carreira que o nosso Rodriguinho: o Rodriguinho do grupo “Os Travessos”, que foi embora para Miami após dar um beiço de R$ 1.800 mil na empresária. De mais a mais, o nosso Rodriguinho não fica com o dinheiro de ninguém: a PF exige, ele devolve, até o último centavo.

O PSDB desembarca do ministério conforme o julgamento da chapa Dilma/Temer no TSE. Não seria mais digno – e mais tucano – permanecer até o final? Sair se o julgamento for desfavorável ajuda a imagem do partido? Uma contribuição para o raciocínio: o maior defensor da permanência chama-se Aécio Neves, senador afastado pelo STF após o grampo da PF de sua conversa com Joesley Batista, da Friboi.

No habeas corpus impetrado em favor de Rodrigo Rocha Loures seus advogados argumentam que o cliente foi submetido a “coação ilegal”. Então tem mais que liberar o moço. Se a coação tivesse sido ‘legal’ seria outra conversa.

Marina Silva, líder do REDE e sempre candidata à presidência da república, foi internada com dores abdominais. Marina tem esse mérito, que falta aos políticos brasileiros: o estômago sensível. Nunca se ouve falar de úlcera, hérnia de hiato, indigestão, constipação, aqueles problemas de cólon como em Renan Calheiros, Romero Jucá, Paulo Maluf, Aécio Neves. Essa gente nasce com estômago de crocodilo, que mantém a presa na barriga até apodrecer lá dentro, e daí começa a digestão.

ANATOMIA DE GREY Meio-dia, ele me aborda na rua, atitude de quem pede informação. Paro, ainda que sob o risco da esmola, o centavo para inteirar a passagem, que se antecipa na atitude e nos faz passar reto. Outras vezes atende-se, pode ser o honesto pedido de informação. Alto, forte, roupas comuns, óculos, barba de dois dias, ele passaria fácil por funcionário do comércio. Cigarro aceso, fluente, prosódia perfeita, agradece minha “boa” educação ao parar.

A falta que faz o treinamento básico para tal tipo de abordagem, sempre igual, quando muito variando no enredo. Não queria informação, pressenti. Deixei correr, tributo à prosódia. Disse que acabara de ter alta no hospital – deu o nome –, cirurgia de desobstrução da aorta, apontou o lado esquerdo do peito. Pausa de microssegundos para a tragada. Cortei, “amigo, não adianta, fumando desse jeito você entope de novo a aorta e empacota”.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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