A ignorância é a mãe de todos os males”. O diagnóstico do francês François Rabelais ecoa há seis séculos. Numa revisão dos dez mandamentos, entraria fácil como o décimo-primeiro…se a ignorância não impedisse. A humanidade convive com ela desde que assomou como aglomerado de seres racionais. Por isso a ignorância é um dos mais expressivos atributos da racionalidade. Os animais, sorte deles, são imunes à ignorância.

Ela gera filhos e produtos, exponencialmente. São o preconceito, o radicalismo, as guerras, isso visto no geral. No particular, temos o fanatismo de todas as ordens, tivemos Inquisição, nazismo, fascismo, estalinismo e agora o terrorismo. Esses são os superlativos da ignorância, seu macrocosmo. Mas somos assolados a toda hora pelo seu microcosmo, agora difundido e amplificado no abuso da liberdade de expressão na internet e nas redes sociais.

Acessar um blog – sobretudo aqueles que toleram o desvio do contraditório sem critério – ou um portal de notícias, é como destampar a latrina do cérebro, o que há de mais podre que a alma pode produzir, como a podridão das podridões, a calúnia, produzida e santificada no anonimato dos pseudônimos covardes. Acompanho  no gizmodo.coma expressiva demonstração de ignorância do último 4 de julho, quando se comemorava a Independência dos EUA.

A NPR, emissora pública publicou, nos 140 caracteres permitidos, em tuítes sucessivos a Declaração da Independência das 13 colônias inglesas da América, de 1776, em relação à coroa britânica. Entre seus redatores estavam Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, que nela afirmaram as razões e os princípios que eram negados aos colonos pelo governo britânico. As razões e os princípios desde então fazem parte da agenda universal da liberdade.

A Declaração consagra o direito de resistência ao governo tirano, sua derrubada; a liberdade inerente à condição humana; o direito de não ser tributado além do limite que comprometa a subsistência e o patrimônio; a livre escolha dos governantes, entre outros. A NPR foi assolada por tuítes de contestação, que a acusavam de subversiva, de atingir o governo do presidente Donald Trump, comparada ao Exército Islâmico, movimento terrorista inimigo dos EUA.

Os tuítes de contestação trazem uma verdade “evidente por si mesma”, para usar a expressão clássica da Declaração: a ignorância do povo norte-americano é a razão de seus males – que o leitor informado sabe quais são. Um deles, desconhecer a pedra fundamental da própria nação. Nada por acaso, os tuítes trazem as digitais dos eleitores de Donald Trump, mais da metade dos votos para presidente.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Pensando bem... e marcada com a tag , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Os comentários estão encerrados.