POR FAVOR, relevem o confessionalismo, de falar coisa íntima e na primeira pessoa, mas não posso conter a indignação com nossa senadora Gleisi Hoffmann. Essa mulher já me levou à loucura com seu jeitinho espevitado, atrevido, evocativa da paixão que todos tivemos no ensino médio. Lembro Sirlene Pelizzari, a garota da carteira ao lado, para a qual jogávamos lápis, caneta, cadernos ao chão para contemplar-lhe as pernas.

Passei da idade e do peso do fingimento, paguei dívidas e pecados, tenho direito adquirido à nostalgia. Gleisi trouxe ainda meu imaginário da universidade, envolvido na sedução de Rosinha de Castro, a veterana de quem me despedia na entrada do aparelho comunista que ela frequentava – e dali nos despedimos para sempre, ela na clandestinidade, eu na frustração do amor inconcluso. Daí esta mania por mulheres que sobrepõem a política ao sexo.

Vivo sob angustiante ambivalência com Gleisi: gosto dela como mulher privada, não como mulher pública. Vinha toureando uma decepção com a senadora. Até que a decepção me abateu, com a força de um golpe da base aliada: o episódio da camisa rasgada no Paraguai, a hospedagem no hotel da Suíça, as viagens com Lula, sem o marido, pelo Nordeste. Tolices cabeludas de presidente do PT não contam, jeito da madeira.

Gleisi caiu na Lava Jato. A paulista, o lance do Custo Brasil, empréstimos consignados do ministério do Planejamento, o marido Paulo Bernardo na suposta maracutaia. Dizem PF e MP que tinha propina: o dinheiro entrava para o advogado curitibano como honorários e saía para o pagamento de contas do casal. Começava em Brasília e terminava em Curitiba. Por que, Gleisi? Por que não ficou na Lava Jato de casa, onde lavamos nossa roupa suja?

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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