Pequeno Manual da Escrita Manual

Escrevo à mão. Quando digo isto, em especial a millenniums, ficam me olhando como se eu fosse um idoso – e eles têm razão em me olhar assim. Mas também deviam me enxergar como quem tem milhares de anos a seu favor. Justamente por usar caneta e papel para produzir garatujas.

A escrita refinada começou com os papiros. Aqueles caras que viviam de perfil passaram a redigir usando penas de pássaros e tintas mais customizadas que as da Mont Blanc. Eram tempos analógicos pra valer. Se o escriba errava uma letra não havia borracha ou caneta corretora, ele precisava usar um facão pra raspar a tinta do pergaminho. Arrisco dizer que, em função disso, produziam-se textos bem melhores que os atuais, consumados com o auxílio de teclados, mouses wireless e aplicativos que corrigem até pensamento.
Sem falar na beleza do material; os dos egípcios era decorados com iluminuras, os de hoje com emojis…

Adquiri o hábito de escrever à caneta por causa da leitura. Sempre gostei de deixar em meus livros uma marginália comentando o que havia digerido, marcando palavras que não conhecia ou, por vezes, discordando de alguma passagem do texto. Quando passei a ler no Ipad – sim, não sou nada desconectado, antes pelo contrário – prossegui com o hábito, só que usando a Apple Pencil.

Tenho meus rituais, obviamente. Uma vez li que um certo escritor europeu, não me recordo mais o nome, escrevia usando a Pilot G-Tec-C4, de cor azul. Fiquei curioso e fui atrás do objeto. Não existia no Brasil. Pedi a um amigo, que vinha sempre dos Estados Unidos, que me trouxesse algumas na bagagem.

A Pilot 0.4 milímetros realmente deu uma química muito boa comigo. A delicadeza e suavidade do traço, a cor da tinta, o toque sobre o papel, tudo isto veio muito a calhar no meu processo. Desde sempre uso a azul clara para textos literários e a azul escura para o restante, assim diferencio os repertórios.

Em certas ocasiões, para dar umas férias às minhas Pilot, trabalho com a Pentel Slicci 0.7mm ou a Pentel Energel 0.5mm. Também são excelentes penas. Pena que não existam as 0.4mm da Slicci no Bananão, esse deserto de canetas premium.

Uma outro fetiche é usar canetas marca-texto (minhas favoritas são as da marca japonesa Mildliner). Crio um espécie de vinheta colorida para determinados assuntos. Se é algo ligado a crônicas, por exemplo, faço um retângulo púrpura; se o tema é trabalho o retângulo é laranja. Separo ainda as anotações com um traço de marcador verde. Isso dá uma melhor visão dos trabalhos no Moleskine.

Mas é melhor eu parar por aqui porque blocos de anotações já são tema para uma outra crônica.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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