Vergonha nacional

Acho que até vi a deputada Abigail Cunha (PL de Bolsonaro) passeando no Rio de Janeiro: vestida de sinhazinha com botox, desfilava com os filhos, carrinhos de bebê conduzidos por empregadas negras, dessas que saem com trajes brancos da cabeça aos pés, desde o sapato até o bibico de cozinheira, na exaltação do contraste branco-preto do Brasil escravocrata. Faço ficção, claro, sobre o estereótipo conhecido. Nunca fui ao Rio, mas vi brasileiras desse tipo em Miami faz pouco tempo. A deputada assumiu recentemente a secretaria da Mulher no Maranhão – terra de Sarney, Flávio Dino e Juscelino Filho.

Abigal deu uma banana aos que diziam que não gostava de pretos: diziam, porque ela deletou no Facebook sua mensagem e foto com as empregadas, “que chama de donas da minha casa”. A deputada  tem o material genético do coronel Odorico Paraguaçu. Jamais aprenderá que no Brasil dizer que tem amigos pretos é a clássica exculpatória do racista. Chamar empregadas de “donas de minha casa” é coisa de sinhá de engenho, mera atualização demagógica de uma das versões do clichê, como a de chamar empregadas de membros da família. Na foto; Abigail podia disfarçar emprestando vestidos de grife e rasteirinhas da Arezzo para as “donas de minha casa”.

No Brasil os brancos afundaram o navio negreiro e desviaram o ouro da Lei Áurea.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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