Por que Dilma e Lula discursam aos berros?

Dilma-e-Lula

© Myskiciewicz

Para quem não conheceu João Zelesny, lá vai.

Era um daqueles padres que, mesmo depois do Concílio Vaticano II, continuou enfatiotado numa batina negra e esvoaçante – nunca lavada, segundo a maldade dos alunos. Um iugoslavo da gema, nascido no Brasil, que lecionou Filosofia (preferia se dizer professor de Metafísica) na então Faculdade Católica do Paraná, hoje PUC/PR. Era um sujeito grande, afobado, suarento, que dava a impressão de estar sempre atrasado para um encontro importantíssimo. Nisso lembrava o Coelho da Alice no país das maravilhas. Aliás, tinha um relógio enorme dependurado numa corrente, que puxava do bolso da batina num só golpe – agitado, mal o olhava, tornava a enfiá-lo no bolso. Se alguém lhe perguntasse que horas eram, ele precisava olhar o relógio de novo. Como um mágico, retirava lenços encardidos da manga da batina, enxugava o rosto encharcado de suor e despejava sobre nós, alunos de filosofia, os ensinamentos de São Thomás de Aquino.

Passava pelos corredores da Católica, que ficava na esquina da XV com a Tibagi, numa velocidade de atleta profissional, carregando uma maleta preta, gorda, de onde era capaz de retirar livros de filosofia em grande quantidade, lenços encardidos, eventualmente uma dentadura, além de uma bíblia reluzente, não de limpeza, mas de tão gasta pelo uso.

Pois um dia vou escrever mais sobre ele. É um personagem notável. Hoje apenas registro algo que ele disse em sala de aula, não sei a que propósito, a respeito de pessoas que falam aos berros:

– São inseguros. Por isso simulam a segurança do berro.

Pois hoje, cada vez que sou obrigado a ouvir os discursos – vamos chamá-los assim, por falta de palavra melhor – da presidente Dilma, me lembro de Padre João e de sua análise dos berradores.

 Ao falar, ela oscila de um lado para outro e berra, pouco importando a ocasião ou a plateia que enfrente. Nem a potência dos microfones. Não acredita em botões de volume.

É com certeza uma criatura muito insegura. Confusa e insegura. Teme que não acreditem em seus poderes porque ela mesma duvida deles. Tal como seu criador, que se disse o inventor do poste, está sempre nos limites da apoplexia.

Duas criaturas que foram guindadas a postos que jamais imaginaram e para os quais não estavam talhadas.

E dá-lhe berreiro, sobrancelhas desencontradas, gestos desconexos, balanços aflitos, concordâncias gramaticais inéditas, metáforas constrangedoras.

PS: para não ser injusto, lembro que muitos políticos discursam aos berros; uma insegurança própria do bando.

 sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Roberto Gomes

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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