Provando do Próprio veneno

Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

BRASÍLIA – Michel Temer recebeu um empresário “em horário inconveniente” para tratar de assuntos “não republicanos”. Existem “sólidos indícios” de que a visita resultou no pagamento de propina. A denúncia que acusa o presidente de corrupção não é “inepta” nem “fantasiosa”.

As afirmações acima não saíram de um discurso da oposição. São da lavra de Sérgio Zveiter, o relator do caso na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara. Nesta segunda, ele deu parecer favorável ao afastamento de Temer da Presidência.

O relatório é mais um duro golpe no inquilino do Palácio do Jaburu. O texto desmonta diversos pontos da defesa do presidente, que insiste em atacar a Procuradoria e em contestar a gravação de sua própria voz.

Zveiter criticou os deputados que defendem o “arquivamento sumário” da denúncia. “A presente acusação contra o presidente Michel Temer é grave, e ela não se apresenta inconsistente, frágil e desprovida de força probatória”, disse.

O fato de o relator ser filiado ao PMDB deu um ingrediente especial ao parecer. Depois de comandar a rebelião do partido contra Dilma Rousseff, o presidente começa a provar do próprio veneno. Os peemedebistas perceberam que o navio de Temer pode naufragar e já disputam espaço no bote de Rodrigo Maia. A turma tem muitos defeitos, mas não carece de instinto de sobrevivência.

O Planalto acusou o golpe. Em uma semana, remanejou 20 deputados para tentar evitar uma derrota na CCJ. O troca-troca escancarou o enfraquecimento do presidente, que se gabava de contar com a maior base aliada dos últimos tempos.

“Minha vaga foi vendida para esses bandidos. Isso não é um governo, é uma organização criminosa”, vociferou Delegado Waldir, que foi removido pelo PR. O deputado perdeu a cadeira nesta segunda, minutos antes de Zveiter começar a ler o relatório. Ele saiu da comissão, mas promete infernizar Temer quando a denúncia chegar ao plenário.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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