Quando a política vira instrumento de lucro nas redes sociais

Você sabia que a deputada petista Gleisi Hoffmann lucra com a monetização de seus vídeos no Youtube? Sim, a presidente do PT fatura com um instrumento que, pelo menos em tese, deveria ser usado por ela para a informação política. Recentemente ela afirmou que lucrou 32 mil reais. Deve ser um caso único da política internacional, de uma presidente de partido agindo como youtuber.

Um estímulo para a plataforma do Youtube ter virado um imenso criadouro de fake news, desinformação e conspirações absurdas, ataques pessoais, barbaridades de todo tipo, é esta cobiça pelo dinheiro, com a monetização dos vídeos. Quando maior a atração da balbúrdia, mais se ganha com as visualizações. Claro que isso tornou este espaço da internet um repositório do que se tem de pior na comunicação entre as pessoas.

O lucro das visualizações é arrancado falando-se qualquer coisa capaz de criar grandes polêmicas, não importando se com isso é preciso fazer uma devassa na privacidade das pessoas, forjar acusações, apelar para o insulto, a difamação, criar as mais loucas conspirações, enfim inventar qualquer coisa, até mesmo as piores  mentiras: isso é o que dá dinheiro.

Uma das revelações mais interessantes do inquérito das fake news, comandado no STF pelo ministro Alexandre de Moraes, foi mostrar que acima de ideologia ou doutrina política, a motivação de muitos ativistas políticos nas redes sociais é esta facilidade de ganhar dinheiro nas redes sociais, ligando-se a uma grande onda política para turbinar a audiência em um canal de vídeo. Quando se pensa que esse monte de lives, os debates urgentíssimos e tanta falação que rola por aí em defesa da pátria ou de algum mito, na verdade o pessoal está ali em sua maioria para ganhar dinheiro como youtubers.

Tanto é assim que mesmo antes do inquérito do STF desvendar esta ambição lucrativa, vários youtubers da direita bolsonarista vinham fazendo mimimi em seus vídeos, reclamando do fim das monetizações imposto pelo Youtube para páginas que avançam demais os limites da decência na plataforma, que por sinal sempre foi de uma tolerância extrema com a estupidez, a maldade e a má-fé.

Essa mania de atiçar uns contra os outros, mentindo e criando conspirações, vem sendo impulsionada em grande parte por estas monetizações. Claro que lucram mais os que naturalmente têm menos limites, digamos, civilizatórios em sua personalidade. Do jeito que está, psicopata leva vantagem. O Youtube acabou gerando estrelas que teriam dificuldade de aceitação até nos piores programas de baixaria nas emissoras de televisão e rádio dos cafundós do Brasil.

Todo mundo já sabe da ebulição política de péssima qualidade criada por este caráter de picaretagem da plataforma. Mas o mais triste é saber que políticos eleitos também entraram na onda de ganhar dinheiro, aproveitando-se do ambiente de furdunço que gera as monetizações. Deputados e outros políticos não atraem público apenas por suas personalidades pessoais, ainda que isso também importe. Existe toda uma carga de responsabilidades e compromissos — do próprio partido, das causas que defendem, do país — que envolvem uma variedade de interesses e necessidades que não devem ser usados para ganhar dinheiro.

E o pior é que até então, alguns deputados estavam usando dinheiro público para lucrar neste mercado. Nesta terça-feira a Câmara proibiu deputados de usarem o dinheiro da cota parlamentar para contratar serviços que gerem lucro na internet. A decisão veio depois da descoberta que deputados bolsonaristas vinham usando este dinheiro para manter seus canais monetizados.

Sete deputados estavam fazendo das suas atividades no Congresso um chamariz para este negócio lucrativo, ao monetizar seus canais no YouTube. São eles os bolsonaristas Carla Zambelli, Bia Kicis e Otoni de Paula, a ex-bolsonarista Joice Hasselmann, o petista Paulo Pimenta e Flordelis, do PSD. A cota parlamentar era usada para contratar os serviços técnicos de texto, edição e montagem dos vídeos de seus canais no YouTube.

É mais uma trapaça desse tipo de político, iludindo quem pensa que atende a um chamado para a participação séria no debate político, mas na verdade é estimulado a entrar em brigas das mais idiotas porque isso cria visualizações altamente lucrativas para os trapaceiros. E não só políticos estão nessa. Muitos youtubers que tocam fogo no debate político — e não é de hoje que fazem isso — estão de olho é na grana que isso dá.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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