Quem tem pena de Joice?

Ela é apenas vítima do machismo denunciado diariamente pelo feminismo, que despreza

Compreensível que parlamentares da oposição e críticos de Joice Hasselmann tenham se comovido e manifestado apoio após sua emocionada fala na tribuna da Câmara, em que denuncia a perseguição da qual tem sido vítima. 

É a reação natural. Qualquer pessoa minimante civilizada sente asco ao se deparar com ataques covardes e comportamentos animalescos, como o que temos visto a rodo na era da “nova política”. Compartilho do sentimento de horror ao linchamento que a deputada tem recebido, mas não consegui ficar tocada ao vê-la chorar, fragilizada, apesar de dizer que as lágrimas eram por seus filhos, afinal é “guerreira”.

Causou-me incômodo não sentir a empatia que esperava, apesar de repudiar tal situação. Fácil apiedar-nos dos filhos. A agressividade direcionada a Joice respinga ao redor, e ninguém quer ver a mãe achincalhada, vinculada a apelidos caricatos e a imagens grotescas.

Ao contrário do que tenho lido, Joice não está colhendo o que plantou, é apenas vítima do machismo denunciado diariamente pelo feminismo, que ela despreza e considera “cafona”. Não é uma revanche divina por ter, no passado, tratado outras mulheres com a mesma moeda. “Hei pessoal, a vaca da Dilma engorda. Espia Brasil”, tuitou em 2016, lembra-se? Não se trata de castigo, é apenas como a banda toca numa sociedade machista.

É obvio que ninguém, nem a própria Joice, merece ser tratado da mesma forma abjeta com que ela se direciona a adversários políticos, críticos e imprensa, mas é difícil acreditar na sinceridade daquelas lágrimas. A deputada usou e abusou da retórica bolsonarista durante sua campanha e depois de eleita.

Ataques, intimidação, deboche, xingamentos, fake news. De olho na Prefeitura de São Paulo, vale tudo, inclusive chorar em público e culpar o machismo por seu revés entre bolsonaristas. Lamento e condeno o linchamento. Minha sororidade fica por aqui.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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