Ridículo?

E daí se uma anta sem talento decide transformar o feto em influencer?

Ridículo é você que fica julgando todo mundo. Ridículo é você que balança a sua cabecinha, sabichona e refinada, em desacordo a cada vez que um ignorante com falta de decoro existencial diz ser terraplanista. Meu Deus! Cuide dos seus problemas. Pare de rir da cara desse palhaço. Deixe as pessoas serem o que são! 

Se uma anta dinheirista sem talento profissional para nada que preste decide transformar o feto em influencer, o que você tem a ver com isso? Por favor, respeite o próximo!

Se uma imbecil nem acaba de parir e já marca 56 fornecedores na foto de um pobre bebê (que já trabalha de modelo publicitário sem jamais ter podido escolher essa profissão), que relação isso tem com a sua vida? Você se acha superior só porque prefere ler, estudar e trabalhar em vez de ser desprezível? Pare de ofender os outros apenas por serem diferentes de você!

Nós vivemos em uma democracia e, por isso, você não pode dizer qualquer impropério a um desgraçado mau-caráter estúpido apenas porque ele é a favor da ditadura.

Se o coração do coleguinha fascista o manda apoiar tortura, você tem que ser generoso e abençoar a percepção dele. Se não, onde vamos parar?

Olha, tem um ginecologista nas redes sociais que passa o dia falando em harmonização genital. Eu acho que ele é um merda? Talvez. Acredito que as redes sociais estão mostrando a face real de muitos médicos (midiáticos nojentos que cagam para o ser humano)? Pode ser.

Penso que mais da metade dos dermatologistas de São Paulo deveria trabalhar em shoppings de Miami? Grandes chances. Ainda que eu quisesse, minha ex-nutricionista não teria tempo para o retorno. Ela passa o dia postando maquiagens e o “lookinho do dia”.

Ela comprou um avental branco todo trabalhado na renda e isso rendeu muitos posts. Dá vontade de sacaneá-la nessa coluna? Dá vontade de insistir no retorno só pra quebrar coisas em seu consultório?

Apenas me controlo. Pessoas com a sobrancelha da Nike e os dentes estrondosamente brancos deveriam receber o prêmio Cafona do Século? Eu até poderia concordar. Mas, gente, eu jamais vou falar isso em público e muito menos escrever sobre o assunto. Vamos dar ao outro a liberdade de exercer o que existe de mais verdadeiro em sua alma, ainda que seja boçalidade e vulgaridade.

Você sente certa aflição quando vê alguém passeando no shopping com cadelinhas cheias de strass na fuça dentro de um carrinho para bebês gêmeos? Não pode. Na adolescência, quando seu amigo da escola dizia ter “uma mãe americana” porque passou um mês em Nova Jersey fazendo um intercâmbio alcoólico, você tinha vontade de meter a testa dessa besta no seu joelho? Está errado.

Você já avisou aquela sua amiga bem bolsominion que vestir o recém-nascido inteiro de vermelho (pra espantar inveja?) vai contra os princípios políticos dela? Não avise. Quando, no parquinho, uma rodinha de “pessoas de bem” fica horas falando mal das babás: “Ai, Micaela, tive que demitir, ela me desacatou”, você gostaria de jorrar um vômito infinito no cabelo delas? Controle-se.

Se eu postar agora o meu talco de chulé vencido já posso dizer que trabalho vendendo lifestyle? Se eu marcar agora duas amigas “artistas” em uma foto já posso me autodenominar curadora? Lembra quando o idiota era aquele que trabalhava com festas apenas para viver em festas? Hoje mais idiota é quem paga pau nas redes sociais para o idiota que fica três minutos em uma festa e ganha R$ 50 mil. Mas eu não ofendo ninguém. Nem julgo. Seria ridículo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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