Bonzinho no inferno – Toda eleição é a mesma coisa. Na reta de chegada, como agora, aqueles candidatos que se apresentavam como anjos salvadores se transformam em vingadores, porque descobrem que o eleitor sabe que ser humano bonzinho existe tanto como fotonovela de final feliz. Aí, de um dia para o outro, se transforam em anjos vingadores, atacam os adversários com as maiores baixarias – e acabam mesmo queimando no fogo do inferno da derrota.

Zé da Silva – Achei a lua horrorosa naquela noite. Não sabia o motivo. Dava para tomar banho de luz com ela, lembrando da Celly Campello e todos os poetas encantados. A escuridão tinha baixado logo depois do amanhecer. O sol se espatifou ao comando de uma dor no coração que teimava em bater além da capacidade da idade. Os olhos de um caranguejo apareceram na lama do manguezal. Na televisão um homem cobrou a dívida de crack da prostituta com facadas que lhe calaram a súplica pela vida. Por que chorei desamparado ao lado do astronauta na sala branca de 2001 Uma Odisseia no Espaço? Sem pai nem mãe. Eles foram embora antes que eu me aninhasse em seus colos para ensinar o que não tinham recebido e aprendido. Soube que digitalizaram “Viagem à Lua”, do Georges Méliès, mas aqui na terra o foguete não entrou no meu olho direito. Exocet não pediu permissão. Furou e se alojou sem explodir no cipoal da alma.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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