Pensamento luso, brasileiro – O futuro ministro da Educação é mestre em pensamento brasileiro, doutor em pensamento luso-brasileiro e professor emérito da escola de comando e estado maior do Exército. Só com muita má vontade vai-se negar que o ministro não é um pensador.

Ficam pequenas, insignificantes, dúvidas quanto ao ministro: sobre o que ele pensa, onde ele pensa e pra quem ele pensa. Uma coisa é certa, o presidente pensa tão bem quanto seu ministro, que ostenta no currículo essa maravilhosa novidade, o pensamento luso-brasileiro.

A juventude bolsonárica – O projeto da escola sem partido é inovador e revolucionário. Inovador quando abre aos alunos do ensino fundamental a prática do patrulhamento e da delação: poderão fiscalizar os professores e delatá-los aos pais, à administração escolar e – por que não? – ao líder político ou ao pastor de sua crença. A inovação consiste em instituir as duas práticas ao ensino fundamental, porque elas existem desde sempre no ensino superior, aqui circunscritas às relações internas discente-docente, sem vazamentos exteriores.

Algumas diferenças: agora serão os alunos da dita direita patrulhando os professores da dita esquerda. No ensino superior é o contrário, alunos da dita esquerda versus professores da dita direita – a ‘dita’ aqui é fundamental, para desvendar a fragilidade dos rótulos, e antecipar as sílabas da palavra representada pela atitude. A escola sem partido não vai se ocupar do patrulhamento e da delação no ensino superior. Aqui continua igual, ou seja, duas realidades distintas no ensino fundamental e no superior, a direita de baixo contra a esquerda de cima.

Como resolver a contradição? À brasileira, importando modas que caducaram no Primeiro Mundos: o sistema de cotas de estudantes de direita no ensino superior. A escola sem partido será uma revolução atrasada algumas décadas: o sistema de patrulhamento e delação existiu na Rússia Soviética, na Alemanha estalinista, nos Estados Unidos macartista e subsiste na Cuba castrista. Digamos, então, que na escola sem partido a ideologia cede ao policialismo de bermudões, skates, fones de ouvido e Instagram.

Da escola sem partido poderão derivar as milícias infanto-juvenis, adaptáveis e adaptadas a qualquer regime, mesmo a um futuro regime de esquerda (que poderá ser a resposta dialética à era Bolsonaro, como esta foi a resposta dialética à era Lula). Finalmente, não será surpresa se os deputados da base aliada incluírem na lei da escola sem partido a obrigatoriedade do uso de camisas pretas, pardas ou beiges pelos alunos do ensino fundamental. Assim foi na Alemanha e na Itália. E no Brasil integralista de Getúlio Vargas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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