Secreto, secretíssimo, secretérrimo

Na nova regulamentação dos documentos sigilosos, os mais ultra dos secretos ficam sob sigilo e só podem ser divulgados após 25 anos. Outro ponto é que agora não é por decreto do presidente ou despacho do ministro que os documentos públicos recebem a classificação. Doravante um simples funcionário com cargo em comissão pode fazer isso.

Documento ultrassecreto é o top dos sigilosos, algo difícil de aceitar no regime democrático. Sob algumas circunstâncias pode ter justificativa. Por exemplo, a atuação de serviços de inteligência para impedir guerras ou a preparação do país para enfrentá-las. Mas o Brasil não tem o porte e a importância dos EUA ou da Federação Russa para tantos segredos.

O secreto, sigiloso, secreto em graus variados, era comum na ditadura. Não por acaso foi uma das primeiras medidas do governo Bolsonaro antes mesmo de qualquer ação política que remotamente justificasse o sigilo. Será que o real estado de saúde do presidente, com altas sucessivamente adiadas do hospital, caiu sob o rótulo ultrassecreto?

O governo Bolsonaro podia marcar diferença com o governo Lula, que em prática de típico estalinismo apôs o rótulo de secreto às despesas da primeira dama em cabeleireiros, roupas e até intervenções plásticas: os inimigos da direita golpista podiam derrubar o governo com o laquê e o esmalte da companheira Marisa Letícia.

Ultrassecreto é desvio da transparência, apanágio da abertura e informação do regime democrático; nega o registro e a análise da história nacional. Se a monarquia tivesse disso não saberíamos hoje da predileção do príncipe D. João por frangos assados, das arruaças de Pedro I e das namoradas de Pedro II, que ele chamava de amigas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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