S.O.S Koan – Lutar com palavras é a luta mais sã

Nunca se deve estar preparado pra um koan. Ou, um koan nunca deve preparar ninguém. No máximo, deve dar uma pancadinha na cabeça da gente e atordoar. De leve. Talvez só muito depois essa pancada cause efeito e produza um galo de sabedoria. Só às vezes produz a iluminação imediata do ambiente.

Koan é uma palavra japonesa de origem chinesa. Diz-se que significava ‘arquivo de documentos’, mas migrou pra um lugar mais confortável e virou um tipo de enigma ou ginástica mental pra deleitar discípulos dos monges. Seria muito parecido com o insight da atualidade.

Não se sabe se os monges (mestres) faziam de propósito pra se safar das perguntas impertinentes dos discípulos. O fato é que a leitura de perguntas sérias com respostas absurdas nos faz querer mais.

A resposta torta pra uma pergunta muito reta faz o cérebro dar uma pirueta e remexer os neurônios. Funciona, mais ou menos, como uma cheirada num lenço com lança-perfume. Só que sem as más consequências físicas.

Existem muitos exemplos clássicos, mas eu resolvi mostrar um — entre muitos — que escrevi há algum tempo. Nem sabia que o nome disso era koan. Claro que não é aquela obra-prima dos monges e outros sábios da antiguidade, mas tem alguma serventia. Toma lá:

O mestre estava suado e exausto de tanto revirar a terra do jardim pra fazer novos arranjos de folhagens. O discípulo, que havia chegado sem ser notado, aproveitando uma pausa no serviço, falou:

— Mestre, dá gosto ver você fazendo um trabalho com tanta dedicação. O que teria a me dizer sobre a motivação humana?
— Você pode ir até a sua casa e me trazer um copo d’água gelado?
— Mas, mestre…
— Pois é… eu nada sei sobre motivação humana.

Um koan muito interessante, de um jogador de beisebol norte-americano, é de fazer rir. Numa pizzaria, quando o garçom perguntou se devia cortar a pizza em quatro ou oito pedaços, ele respondeu: — Quatro. Acho que não consigo comer oito pedaços.

No Brasil, Dadá Maravilha era muito bom nisso. Quando perguntaram pra qual era a problemática do futebol, ele respondeu: — Eu não conheço a problemática. Eu tenho a solucionática.

Rui Werneck de Capistrano é catador de palavras e ilusões

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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